A Garganta da Serpente
Veneno Crônico crônicas
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Pensando alto

(Ivaldo Gomes)

Já passou da hora de termos Políticas Públicas de Estado e não apenas de governos. Essa nossa incipiente democracia - de mais discursos do que de prática - têm nos mostrado que caminhamos mais em círculos que em linhas evolutivas, helicodialmente falando. Veja o caso emblemático da Paraíba, que apesar de estar renovando seus dirigentes através do voto, termina por criar uma nova geração de dirigentes, que pelo jeito que vai, vai terminar em mais uma nova oligarquia. Serão os novos coronéis dos tempos modernos. E pra lhes ser sincero acho muito pouco tudo isso para tamanho esforço da sociedade. Democracia não é de verdade uma coisa fácil de exercitar. Pois depende de muita consciência (paciência), que só se consegue mesmo estabelecer via educação. E que educação que temos?

Comecemos por ela, a educação. Temos que ter uma Política de Estado para a Educação. E dirão os apressadinhos: mas já temos. E temos. Só que no papel. Pois na prática a partitura é outra. Apesar dos 25% constitucionais para as Prefeituras e Governos dos Estados e 18% via Governo Federal, e apesar da ineficiência dos Tribunais de Contas e da União, esses recursos não são aplicados de forma coerente com o quê a nossa população precisa em termos de educação pública. E olhe educação não se restringe só a escola, a sala de aula. O Estado precisa prever Políticas Públicas permanentes, coerentes com nossas carências e necessidades. Chega de improvisação com políticas públicas de governos.

Tente compreender a diferença entre Política Pública de Estado e de governos. Se for de Estado é permanente, objetiva, acompanhada, avaliada, redimensionada, rediscutida, mais realizada para atender o objetivo de Estado que é servir ao cidadão. O Estado deveria ser o cidadão no coletivo (é o que se espera dele). Já as políticas públicas de governos (o que estamos acostumados a ver e sobreviver) são aquelas que têm nome, brasão, discurso, reuniões públicas para gerar marketing, inaugurações e placas vistosas, entrevistas e muita, muita propaganda tentando nos convencer que 'aquela' política de fulano de tal ou beltrano, 'naquele' governo, é a melhor e mais competente e interessante para todos nós. E ainda: quatro anos é pouco para fazer uma idéia maravilhosa dessas acontecer. Pelo discurso dos governos o ideal é que eles fiquem uns vinte anos no poder. Ai sim seremos todos redimidos.

'Ai meus amigos, minhas amigas', os novos coronéis do nordeste deitam e rolam. Até a impessoalidade passa a ser pessoal. E tome brasão da administração até na etiqueta do tênis escolar. E olhe que tinha gente que achava que devia colocá-lo até no papel higiênico. Foi agindo assim que apareceram aqueles ladrilhos nazistas no salão do Palácio da Redenção e o digno, decente, honrado Governador Antônio Mariz mandou retirar. Mandou colocar na lata do lixo da história. Onde deve repousar toda e qualquer vontade totalitarista. A unanimidade não é burra, mas exagera um pouco. Portanto o tempo ruge e urge colocar na pauta do dia o que temos mesmo de Política Públicas de Estado. Pois de governos não têm passado de logomarcas que vão de vento em polpa junto com o erário que deveria ser público.

Queremos discutir, eletronicamente, politicamente, coerentemente, Políticas Públicas de Estado. Para a educação, para a saúde e para a nossa segurança. Não só essa 'segurança' de polícia, presídio, repressão. Mas segurança de salários decentes, distribuição de renda e oportunidades, perspectivas de vida e vivências mais harmoniosas e mais justas em nossa sociedade. Para não termos que ouvir baboseiras de autoridades governamentais do tipo: 'o pedido de demissão de 37 médicos (de forma coletiva), do sistema de saúde municipal não é uma coisa importante'. Isso também é segurança sabia? É também saúde para quem não tem a quem recorrer a não ser um hospital público, que deveria estar ancorado numa Política Pública de Estado e não de governos que governam como se fossem seu. Mas é fácil dá opiniões sobre a saúde dos outros com o cartão da UNIMED no bolso. Mas a maioria depende mesmo é do Hospital de Trauma. Do Hospital Universitário. Mesmo que pra isso tenhamos que ficar traumatizado com o atendimento. Temos mesmo?

Quando será mesmo que o Ministério Público - todos eles - vão cobrar dos governos suas Políticas Públicas de Estado e fiscalizá-las de verdade? E claro sem marketing político de grupos que estão - temporariamente - no poder. Estamos cansados de ver esse filme de qualidade duvidosa. Morremos no fim. Lembro do digno, decente e honrado professor Iveraldo Lucena - por coincidência o Secretário de Educação escolhido do Governador Antônio Mariz - ele têm uma frase que resume bem o papel dos governos hoje: "a única coisa que tem continuidade nos governos atuais é a descontinuidade". Está vendo ai Ministério Público aonde chegamos ou ainda para onde estaremos indo? A nossa sociedade vive hoje uma conflagração meio esquizofrênica. Por um lado é demandada a participar, mas por outro lado é alijada de todo o processo. Só vota e paga impostos. Não participa. E quando é chamada para participar, é escalada no papel de lagartixa. Balancem a cabeça. Vocês ai batam palmas, levantem a mão e sorriam. Pois o sorriso é a alma da propaganda.

Queremos sim POLÍTICAS PÚBLICAS DE ESTADO, para que não fiquemos aqui construindo esfinges e pirâmides personalistas. Não precisamos disso. Acredite. Confie. Eu por exemplo nunca vou lhe pedir seu voto. Ms tem quem o faça e até o compre-o. Como aconteceu nessas últimas eleições e como têm acontecido em todas as outras eleições. NUNCA tivemos eleições limpas e livres. Pois não possuímos consciência social suficiente para esse tipo de atitude. Não dá para espera muito de uma população semi-analfabeta politicamente falando. É a realidade. Estão ai as pesquisas do IBGE pra quem quiser ler e compreender. Vejam os nossos 'desempenhos' na educação, saúde, segurança, nível e qualidade de vida, emprego, habitação, saneamento básico, pontos de cultura, etc.etc.

E talvez você esteja se perguntando: o que eu tenho haver com isso? Tem tudo. Pois se você não exigir - do seu jeito - que isso mude, vamos continuar nessa peleja de entra governo e sai governo e a vida da gente não muda para melhor em todos os aspectos. Pois tem isso também. Não adianta mudar apenas uma coisa - até porque no conjunto não se muda apenas uma coisa - mas têm que ser em todos os âmbitos sociais, econômicos e políticos. Precisamos agir, sair dessa inércia, desse esperar pra ver como é que fica e começar a fazer discussões públicas, nas entidades, nos grupos, em casa. A pergunta fundamental é: o que eu tenho haver com tudo isso? O que eu posso fazer pra mudar as coisas de hoje para um patamar melhor, mais civilizado, solidário, ético?

Nós temos tudo haver com isso. Pode acreditar. Queremos Políticas Públicas de Estado. E não apenas políticas públicas de marketing e brasões coroados. Não queremos novos coronéis, novos donos, novas dinastias. Queremos o futuro feito por nossas próprias mãos. Não queremos esmolas, queremos nossos direitos de cidadania. E ponto. Nós SOMOS o Estado e ele nos deve obediência. Pois o legitimamos e os mantemos. Até um dia que achemos que também não vale a pena carregá-lo nas costas. E ai é uma outra conversa. Temos que partir de onde estamos. Compreendendo o que fomos, o que somos e o que queremos ser. Aonde ir e como chegar lá. Chega de conversa fiada e políticas públicas de governos. Vocês, dos governos atuais, não estão conseguindo mais enganar todo mundo. Muita gente já possui essa compreensão e ela se expande. Pois é o novo.

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