A Garganta da Serpente
Veneno Crônico crônicas
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Democracia direta

(Ivaldo Gomes)

A história da Republica no Brasil é uma tragédia. São mais de cem anos de falcatruas. Entra governo e sai governo e não tem um que não tenha sido acusado de algum descaminho. Mas esse tem sido o caminho trilhado pela construção do que queremos entender como uma possível democracia. Chegamos até aqui, republicanamente falando, com um saldo de que quem manda mesmo ainda e sempre são os ricos do país. Quem tem dinheiro tem voz, poder e mando. Quem não tem, leva grito, bate palmas e carrega o piano. O danado é saber até quando vamos carregá-lo nas costas. A democracia que acredito e defendo, garante a quem carrega o piano, o direito de tocar para e com todos.

Mas aqui chegamos e aqui estamos. Eleição de dois em dois anos e depuração lenta, gradual, quase parando. Até porque quem está se beneficiando dessa equação histórica, não quer nem saber da música de Lulu Santos: Como uma onda no mar. Pois aqui, querem e consegue que nada mude o tempo todo. É como se quisessem parar o tempo. Mas o tempo não tem parada! E andando, como tem que ser, vamos caminhando na incerteza se essa equação histórica, ideológica e de mercado - pois tudo parece um grande supermercado - tende a perpetuar a regra de que quem têm mais ganha mais e quem ganha menos fica sempre com menos. Mas é bom advertir que quando o menos fica pouco ele acaba. E daí só sobra o TODO dos outros. E que não são nem 'tantos outros' assim. São visíveis a olho nus. Não se esconde riquezas. Talvez o invisível hoje seja a pobreza da maioria do nosso povo.

Mas e as soluções? Dirão alguns. Pois argumentar vendo o óbvio é como dizer que hoje tem pôr-do-sol. E têm. Mas todo dia é diferente. E se é diferente o pôr-do-sol de todo dia, deve existir uma forma de isso aqui ser diferente disso que está ai. E quem faz de fato tudo isso que está ai? Eu, você, nós. Somos nós que estamos aqui. Nunca esqueça disso. À hora é agora. Não posso deixar os pratos na pia pra lavar amanhã. A roupa suja tem que ser lavada. Ah! O Chanel número 5? Que bastava algumas gotas para que Marilyn Moore se vestisse de cheiros para dormir? Mas os cheiros também passam. Melhor lavar a roupa. A realidade é sempre dura no ato de se comunicar. Água é água, terremoto é terremoto. As coisas mudam mesmo, pode ter certeza, como uma onda no mar, no ar. Toda hora. Agorinha mesmo. Ali no mar de Tambaú.

Precisamos ser mais organizados. Organizarmos-nos mais. Precisamos influir mais nos nossos destinos. Até porque só temos esse mesmo. E espero que seja auspicioso enquanto dure. Pois penso exatamente igual a baiano que diz que: 'baiano não nasce, estréia'. A gente veio pra cá pra ser feliz. Foi-nos dado, concedido, propositalmente ou por acaso - não interessa nessa altura do campeonato - um paraíso com nome e tudo: Jardim do Éden (Terra e cia.). Parece até que estou vendo a placa em néon piscando: Jardim do Éden. Mas ai, uns engraçadinhos acharam de ficar com a melhor parte pra si. E tome mansão no alto da colina e ruas engarrafadas de carrões. E nós andando de ônibus lotado? Hei! Isso aqui foi feito pra mim também. Eu tenho os mesmos direitos e gostaria de ter os mesmos deveres.

Democracia direta. Governo eletrônico. Via internet. Decidido pelo voto não obrigatório. O que deve 'nos obrigar' é a nossa consciência de participação. Responsabilização. A nossa livre determinação em querer isso ou aquilo. Somos modernos. Temos tecnologia a nosso favor. Agora a fé de remover montanhas é mais fácil. Pois temos os meios e justificados fins. Precisamos avançar - democraticamente falando - precisamos construir outras formas de legitimação e representatividade. Temos que garantir o poder da decisão na mão da maioria. Com todo o respeito e as garantias necessárias a existência das minorias e seus interesses. Precisamos transformar o país num movimento plesbicitário em variadas questões. Proponha-se (sociedade civil, instituições e atuais governos) reformas políticas e sociais, e decidamos no debate público e no voto eletrônico. Definamos de vez um modelo de educação para o país. Uma política econômica voltada para os interesses da maioria da população. Exercitemos a democracia participativa, inclusiva, direta. Gerando acesso. Deixando o povo decidir.

Voltarei ao tema. Pois ainda vamos ouvir falar muito nessa questão. Democracia direta. Pense nisso. Pois o nosso futuro passa por ai.

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