A história da Republica no Brasil é uma tragédia. São
mais de cem anos de falcatruas. Entra governo e sai governo e não tem
um que não tenha sido acusado de algum descaminho. Mas esse tem sido
o caminho trilhado pela construção do que queremos entender como
uma possível democracia. Chegamos até aqui, republicanamente falando,
com um saldo de que quem manda mesmo ainda e sempre são os ricos do país.
Quem tem dinheiro tem voz, poder e mando. Quem não tem, leva grito, bate
palmas e carrega o piano. O danado é saber até quando vamos carregá-lo
nas costas. A democracia que acredito e defendo, garante a quem carrega o piano,
o direito de tocar para e com todos.
Mas aqui chegamos e aqui estamos. Eleição de dois em dois anos
e depuração lenta, gradual, quase parando. Até porque quem
está se beneficiando dessa equação histórica, não
quer nem saber da música de Lulu Santos: Como uma onda no mar. Pois aqui,
querem e consegue que nada mude o tempo todo. É como se quisessem parar
o tempo. Mas o tempo não tem parada! E andando, como tem que ser, vamos
caminhando na incerteza se essa equação histórica, ideológica
e de mercado - pois tudo parece um grande supermercado - tende a perpetuar a
regra de que quem têm mais ganha mais e quem ganha menos fica sempre com
menos. Mas é bom advertir que quando o menos fica pouco ele acaba. E
daí só sobra o TODO dos outros. E que não são nem
'tantos outros' assim. São visíveis a olho nus. Não se
esconde riquezas. Talvez o invisível hoje seja a pobreza da maioria do
nosso povo.
Mas e as soluções? Dirão alguns. Pois argumentar vendo
o óbvio é como dizer que hoje tem pôr-do-sol. E têm.
Mas todo dia é diferente. E se é diferente o pôr-do-sol
de todo dia, deve existir uma forma de isso aqui ser diferente disso que está
ai. E quem faz de fato tudo isso que está ai? Eu, você, nós.
Somos nós que estamos aqui. Nunca esqueça disso. À hora
é agora. Não posso deixar os pratos na pia pra lavar amanhã.
A roupa suja tem que ser lavada. Ah! O Chanel número 5? Que bastava algumas
gotas para que Marilyn Moore se vestisse de cheiros para dormir? Mas os cheiros
também passam. Melhor lavar a roupa. A realidade é sempre dura
no ato de se comunicar. Água é água, terremoto é
terremoto. As coisas mudam mesmo, pode ter certeza, como uma onda no mar, no
ar. Toda hora. Agorinha mesmo. Ali no mar de Tambaú.
Precisamos ser mais organizados. Organizarmos-nos mais. Precisamos influir
mais nos nossos destinos. Até porque só temos esse mesmo. E espero
que seja auspicioso enquanto dure. Pois penso exatamente igual a baiano que
diz que: 'baiano não nasce, estréia'. A gente veio pra cá
pra ser feliz. Foi-nos dado, concedido, propositalmente ou por acaso - não
interessa nessa altura do campeonato - um paraíso com nome e tudo: Jardim
do Éden (Terra e cia.). Parece até que estou vendo a placa em
néon piscando: Jardim do Éden. Mas ai, uns engraçadinhos
acharam de ficar com a melhor parte pra si. E tome mansão no alto da
colina e ruas engarrafadas de carrões. E nós andando de ônibus
lotado? Hei! Isso aqui foi feito pra mim também. Eu tenho os mesmos direitos
e gostaria de ter os mesmos deveres.
Democracia direta. Governo eletrônico. Via internet. Decidido pelo voto
não obrigatório. O que deve 'nos obrigar' é a nossa consciência
de participação. Responsabilização. A nossa livre
determinação em querer isso ou aquilo. Somos modernos. Temos tecnologia
a nosso favor. Agora a fé de remover montanhas é mais fácil.
Pois temos os meios e justificados fins. Precisamos avançar - democraticamente
falando - precisamos construir outras formas de legitimação e
representatividade. Temos que garantir o poder da decisão na mão
da maioria. Com todo o respeito e as garantias necessárias a existência
das minorias e seus interesses. Precisamos transformar o país num movimento
plesbicitário em variadas questões. Proponha-se (sociedade civil,
instituições e atuais governos) reformas políticas e sociais,
e decidamos no debate público e no voto eletrônico. Definamos de
vez um modelo de educação para o país. Uma política
econômica voltada para os interesses da maioria da população.
Exercitemos a democracia participativa, inclusiva, direta. Gerando acesso. Deixando
o povo decidir.
Voltarei ao tema. Pois ainda vamos ouvir falar muito nessa questão.
Democracia direta. Pense nisso. Pois o nosso futuro passa por ai.