Até parece que somos todos uns desmiolados. Pois ficamos a assistir esse
filme da realidade brasileira, paraibana e pessoense sem dá um pio. Entendendo
tudo e calados. Percebemos as artimanhas dos políticos tramando eleições
e acordos de todos os tipos. Os tais dos três poderes, de comum acordo,
mantém a sua independência sobre o erário que deveria ser
público. Parece até que os três poderes resolveram não
só privatizar o erário, como também partidarizá-lo.
E tome partido político metido nos poderes, com suas cortes, privilégios
e salários astronômicos. Pois pagar salário de vinte mil
reais a um juiz e pagar seiscentos reais a um professor é no mínimo
injusto. Pra não dizer ilegal. Mas pode. Aqui tudo pode em nome do privilégio
de alguns.
Elegemos toda essa gente. Demo-lhes poder pra mandar na gente. São
nossos representantes e ainda tem a cara de pau de usar os recursos que mais
uma vez deveria ser público, mas serve para fazer a propaganda enganosa
dos seus governos, com os nossos impostos. É como dizer pra gente com
o nosso dinheiro do quanto ele é imprescindível para nossa existência.
Termina se transformando numa espécie de Deus na terra, que a tudo pode
e a tudo é permitido. Inclusive acima da lei. Deixam de ser mortais para
ser imortais com o dinheiro público. Aqui também e mais uma vez
privado.
Compram o silêncio de muitos e quase todos. Pois, a maioria de rabo
preso à mesa das migalhas do poder, fica fazendo de tudo e mais um pouco
para não perder a boquinha. Pois a bocona, sabe como é, é
daqueles de sempre. Os ungidos por nós pelo voto que lhe transferimos
nossa cidadania, pois ele passa a ser o nosso representante. Mas também
e ainda temos que lhes sustentar e ver, a todo instante, como eles agem em grupos
e cada vez mais associados para que os recursos, aqueles dos nossos impostos,
sejam cada vez menos explicados. Mesmo e apesar das 'ouvidorias' e 'secretárias
de transparência' pública, onde na prática só se
observa o privado. E ficamos privados de um monte de coisas.
A lógica instalada é aquela de sempre. Aquela centenária
que diz: primeiro os meus, depois os que poderão ser meus e depois os
outros. Essa lógica egocêntrica que gera e mantém todo esse
quadro desolador de injustiça social que de tão secular passou
a ser culturalmente aceito. Ora, os negros antes apanhavam, eram colocados a
ferros. Forçados a trabalhar na vontade do capataz e no interesse do
sinhozinho de plantão. Agora está bom demais. Nós nem batemos
mais neles e nem eles são obrigados a trabalhar. Podem ficar com um salário
mínimo desse. Ínfimo para quem já foi tão humilhado.
E olhe, esse negócio de racismo é coisa que colocaram na cabeça
dos negros. Parece até piada. Mais a verdade é que os negros,
os índios, os diferentes, os discordantes, são sempre tratados
com desdém e se possível devem ser eliminados. Os nazistas, os
fascistas e todos esses 'istas' odientos nos prova historicamente tudo isso.
Sempre foi hora de dizer o que se acha de verdade. E dizer com todas as letras
que não estamos satisfeitos com o andamento e o passeio da carruagem.
Chega de alguns poucos na boleia e o resto limpando a estrada. Chega de enganação.
De hipocrisia. De conivência com tudo isso. O certo é o certo e
o errado é o errado. Isso serve para ontem, hoje a amanhã. Fica
até parecendo que somos um bando de idiotas, dementes, que mesmo sabendo
do nível de exploração a que estamos expostos, ficamos
discutindo entre a gente, principalmente os explorados, como nos livrar da exploração
sem querer enfrentar os exploradores. Que covardia é essa meu? Vamos
acabar com isso. E vamos começar a dizer o que se acha disso tudo e exigir
mudanças sob o controle da maioria de todos nós. Aliás,
até como pobres somos maioria. Estamos com medo de quê? Do soldado,
do oficial de justiça, do cobrador de impostos, dos jornalistas, dos
médicos, dos advogados, dos professores que ensinam para o conformismo?
Qual é o medo?
Com muita sinceridade temos que começar a rediscutir tudo isso. A discutir
de novo. Repensar essa organização social que estamos enfiados
até o pescoço. Nesse laço capitalista que cada dia que
passa aperta mais. E o pescoço agüenta até quando? Pois bem,
essa tem sido a pergunta que minha 'consciência bigorna' bate e rebate
na minha cabeça todos os dias. Por que tem que ser assim? Sempre assim?
E o pior, quando achamos que estamos encontrando uma saída, mesmo em
grupo, percebemos que a cultura continua a mesma. Tem sempre alguém ou
alguns levando vantagem. É a velha lógica do colonizador: eu
preciso que você aceite que eu mande em você, para que você
se sinta dependente de mim. Se não, eu não existo. Que vão
as favas o colonizador ou sua consciência. Não precisamos de selas
em nossas costas. Nem de andor pra santo de pés de barro. Não
estamos interessados em construir mais uma corriola, grupo, grupelho, corte
ou casta.
Estamos de costas pra nós mesmos. De frente pra quem nos oprime. E
vamos baixar a cabeça até quando? Até quando não
formos mais necessários? Mas porque então precisam do nosso voto
e dos nossos impostos? Porque temos que apenas dá o poder e pagar a conta
do café da manhã, do almoço, do jantar, da festa, dos cargos,
das gratificações, das mordomias, dos mais iguais que a maioria
de nós? Por quê? Responda-nos quem tem a resposta e as justificativas.
Vamos ter que malhar a bigorna das nossas consciências e começar
dar explicações públicas do por que só se vê
um lado e não todos os lados. Se nem o vento sopra para um lado só,
imaginemos nós que temos pernas, consciência e direção.
Estamos cheios de placas e propaganda enganosa. De Out Door mentirosos que nos
prometem o céu, mais nos entregam mesmo é a portaria do inferno.
E a gente que se vire pra achar um lugar mais refrescante. Pois quem fica mesmo
no ar condicionado são sempre aqueles mesmos senhores e senhoras de sempre.