A Garganta da Serpente
Veneno Crônico crônicas
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Programa Saúde da Família

(Ivaldo Gomes)

A idéia é nova no Brasil, mas antiga no mundo. Já se sabia que na China, há pelo menos uns dois mil anos, já se praticava o que chamamos de saúde da família. Lá os curadores, médicos e raizeiros, já sabiam que cuidando do bisavô, do avô, do filho, do neto e do tataraneto, as doenças poderiam ficar previsíveis. Era a genética familiar comprovada na longevidade familiar. Se o bisavô teve tais e tais tipos de doença em seu período de vida, com muita propriedade os casos poderiam se repetir no avô, filho ou neto. Ou seja, toda a paciência chinesa a serviço da observação e do controle. E essa filosofia da medicina oriental chinesa se espalhou pelo mundo. Apenas um princípio não foi adotado por aqui: só se pagava ao médico chinês enquanto se estava saudável. Se adoecia deixava-se de pagá-lo.

Aqui tanto faz como tanto fez. Se paga do mesmo jeito. Começamos pagando a formação de todo o pessoal de saúde, com nossos impostos. O que não é barato. Depois pagamos o plano de saúde privado, pois o SUSplício que já pagamos é público e não funciona. Apesar dos milhões ali empregados. Mas o Programa Saúde da Família é uma sacada e tanto. Mas na prática tem servido a tudo menos as nossas famílias. Serve bem a famíglia dos políticos que usam o programa para empregar seus mais chegados. Essa tem sido a realidade. E se paga até bem. Pois por quatro horas de serviços diários, um médico pode ganhar mais de cinco mil reais/mês. Não é o salário astronômico, como de um desembargador, juiz, procurador da república, mas também não é o bolsa miséria dos professores envergonhados.

Mas estamos no âmbito do Programa Saúde da Família, que apesar de ser uma excelente idéia, na prática não corresponde à realidade dos fatos. Pois se a idéia é acompanhar a saúde das famílias brasileiras, podemos constatar que esse programa não acompanha o desenrolar dessa saúde familiar. Como fazem isso se não visitam nem os moradores onde o PSF existe? Tiro por aqui onde moro. Pois vivo nessa casa há mais de 25 nos e se recebi a visita de um ou outro se dizendo pertencer a esse programa, foi pelo fato de ter ido ao PSF para fazer uma reclamação pela falta das visitas. E olhe, o programa tem um técnico chamado agente de saúde, que em tese, deveria visitar as famílias com certa freqüência. Mas se você não for ao posto do PSF ele não vem até você.

Tudo no Brasil tende a ser desvirtuado, pelo fato da nossa pouca cultura e falta de educação. Aqui a tendência é avacalhar o serviço e logo depois de inaugurado, empregos dados, fotos e placas feitas e descerradas, dividendos políticos distribuídos e contabilizados e tudo agora vira uma rotina de trabalho até não existir mais o que fazer. Até os recursos minguarem e os serviços serem suspensos. Já vi, vivi e vejo programas e programas darem com os burros n´água. Já assisti milhares de dólares serem jogados fora, com obras e obras inacabadas por esse Brasil afora. Todo um esforço e todo um trabalho desenvolvido na direção de uma assistência pública de qualidade na saúde, está de certa forma abandonado, pois os retornos sociais são os mais questionáveis possíveis.

Tudo por aqui está para ser refeito. Pois rarefeito tem sido a continuidade dos serviços públicos com qualidade no país. A cada governo se reinventa a roda. E tudo passa a sofrer processos de continuidade e tudo recomeça e nada continua. Parece até praga. Mas nos governos de hoje o que tem continuidade é a descontinuidade. Parece ser a única coisa que próspera. Até chegar a nova eleição e ai o povo resolver que esse mandatário já deu o que tinha que dá. Ou, em outras palavras, levou o que tinha que levar. É surpreendente constatar que apenas num convênio com a FUNASA, no período de 2000 a 2003, simplesmente sumiram 15 milhões de reais da PMJP. Como você pode perceber as famíglias se deram bem com os recursos da saúde.

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