Eu e minha mania de remar contra a maré. E ela chama-se Ariano Suassuna,
a maré da vez. Mas estou interessado em ressaltar, enaltecer outro paraibano
arretado, também de Taperoá. Ele não é autor de
obras de cal e gesso, muito menos de papel e tinta. Mas é seguramente
uma das melhores cabeças da Paraíba na e da atualidade. Balduino
Lélis deveria ter sido sempre levado mais a sério. O maior defeito
de Balduino Lélis (se é que ele possui um defeito a ser destacado)
é ser desapegado. É um visionário que enxerga as coisas
no futuro do presente. Sabe do passado como ninguém. Vive um presente
de olho no futuro, faz e propõe coisas que levaremos décadas para
entendê-las em sua dimensão. É uma espécie de Leonardo
da Vinci em pleno cariri paraibano.
É de Balduino Lélis a idéia de se ter/realizar uma Universidade
Leiga do Trabalho em pleno coração do cariri. Onde os ofícios
possam ser repassados de uma geração para outra e ai sim garantir
que a cultura do fazer de hoje e ontem possam acontecer no futuro. É
dele a primeira tentativa paraibana de estabelecer um laboratório em
fitoterápicos, onde as raízes e as 'meizinhas' de nossas avós
pudessem sobreviver à alopatia (remédio químico) que tomou
conta do mundo. Com ele vi nascer quatro museus temáticos. Os de Monteiro,
Cabaceiras, Sumé e Taperoá. Foi com ele que aprendi que o que
vale é o que está dito e nem sempre o que está escrito.
Quando vejo Ariano Suassuna sendo reverenciado e reconhecido por todos (nada
mais justo), fico a cobrar-me (a cobrar de todos) o porquê de não
se dá a mesma importância também a Balduino Lélis?
Um criador, inventor, doutor da história, geografia, das artes e da reminiscência
cararizeira. Folclorista, professor, colecionador, pregustador das coisas e
da cultura do nordeste. Falar em Taperoá e não falar em Ariano
Suassuna, Balduino Lélis, Manoelito Vilar, Vital Farias, é a mesma
coisa que falar de Paris e esquecer do Museu do Louvre e da Torre Eifel. Mas
cadê o reconhecimento público dessa figura fantástica que
fez do seu 'que fazer' um testemunho de humildade, compreensão e visionice?
A Paraíba precisa reconhecer e enaltecer a contribuição
inestimável de Balduino Lélis ao pensamento contemporâneo
da Paraíba.
Não sei por onde ele anda. Pois faz uns cinco anos que não nos
vemos. Não sei como tem vivido e o que faz no momento. Com certeza deve
andar de lá pra cá, em seu cariri velho de guerra, a propor soluções
para que homens e mulheres possam viver melhor. Quando desci pela primeira vez
na sua Taperoá e vi e vivi a Universidade Leiga do Trabalho que ele fez
com seus próprios recursos, disse pra Ana Maria, minha companheira de
estrada: esse cara é doido. Pois só um doido faria tudo isso dessa
forma. Mais foram os 'doidos' que fizeram o mundo avançar. Quando fecho
os olhos e me deixo invadir pela imagem desse homem fantástico que o
barro do cariri conseguiu produzir, me encho de orgulho de ter podido desfrutar
da sua amizade e da sua genialidade.
Taperoá! Taperoá! O que tens a esconder para produzir filhos tão
ilustres? E viva Ariano Suassuna! Balduino Lélis! Manoelito Vilar! Vital
Farias! Viva o Cariri paraibano!