Cada dia que se passa, observo do meu canto a normose tomando conta de
tudo. Esse 'conceito' de normose, foi bem trabalhado pelo colunista,
consultor e fundador do SEBRAE, o economista e professor da UFPB Mauro Nunes
(ver artigos escritos por ele no www.mauronunes.com.br). Resumidamente: normose
é a classificação que se dá para o estágio
em que os seres humanos, por não compreenderem a realidade que lhes cerca,
terminam por 'aceitar' essa realidade como uma coisa 'normal', tornando-se uma
pessoa normótica (acomodada, resignada) que a tudo vê e
adapta-se sem reação. Por ignorância, por comodismo ou por
pura alienação.
Normótica segue a sociedade brasileira, com essa imprensa e esse
processo de comunicação que contribui e muito para que essa normose
se estabeleça, pela falta de criticidade e pela tentativa de imbecilização
que as linhas editorias dos sistemas de comunicação do país
adotam. Evidentemente que existem raras e excelentes exceções,
tais como o Observatório da Imprensa , a Revista Caros Amigos , só para citar duas.
Outros exemplos existem, mas na prática são minorias frente a
essa avalanche de maus mídias.
Essa normose em que se encontra a sociedade brasileira, vivendo hoje
entre a perplexidade e a decepção com os rumos do nosso país,
principalmente da sociedade política (as estruturas de poder político,
como o Estado e seus respectivos governos). É comum ouvirmos frases de
conformismo (pura normose) do tipo: "é assim mesmo, isso não
tem jeito", ou, "sempre foi assim, nunca vai mudar". Essa normose
patológica e social, já dá mostras da aceitação
por parte de muitos de nós, de uma certa conivência com atitudes,
por exemplo, de nepotismo (nomear parentes sem concurso para cargos públicos)
ou mesmo simples atitudes de corrupção como o mau uso dos recursos
públicos, que de uma hora para outra são 'apropriados', ou melhor
dizendo, desapropriados, passando do interesse público para o privado,
como se isso fosse uma coisa 'normal', o que não é.
Ficamos a nos perguntar até quando esse quadro de normose vai
nos acometer e até onde isso poderá nos levar? Se já não
estamos num caminho sem volta, onde os cidadãos que querem ver tudo isso
modificado passam a ser encarados como os 'errados' de todo esse processo. Lutar
por justiça social, por atitudes éticas, por paradigmas que nos
coloque em patamares de mais civilidade ou mesmo para o simples exercício
pleno da cidadania termina por criar uma situação de quase desaprovação
por parte de parcelas significativas da sociedade, imbecilizadas por falta de
informação e compreensão crítica da realidade (baixo
índice de educação), como também por estarem sendo
acometidas, cada vez mais, por essa síndrome da normose, não
percebem a 'domesticação' que estão sendo vítimas
e terminam por aceitarem os fatos sem contestação.
Precisamos alertar a sociedade civil do perigo que é essa postura normótica
para os dias de hoje. Como exemplo sito um caso que estamos vivenciando na Escola
Municipal Lions Tambaú, em João Pessoa, onde em uma assembléia
de pais e mestres, ao argumentar a necessidade de se exigir uma escola de melhor
qualidade, fomos instados, por outros pais a procurar uma escola particular
para os nossos filhos. Veja, caro leitor, onde a normose está nos levando.
Pois até reivindicar direitos de cidadania, garantidos na Constituição,
pode ser confundido com solicitação de 'mordomias'. Se a escola
é simples, deficitária e o governo municipal é cúmplice
dessa situação, não cumprindo com o que é da sua
obrigação, tem-se a compreensão normótica
de que é assim mesmo. Se não quiser assim, que saia e procure
suas melhoras. O problema é seu.
Abramos os olhos, pois a normose pode acabar com nossos sonhos e com
nossas vidas. Depois não adianta ficarmos achando ruim porque negaram
nossos direitos e utopias, e que só nos restou a normose de aceitar tudo
de forma tão pacífica e indolente. A sociedade civil de forma
organizada deve, o quanto antes, romper com essa normosidade e começar
a exercitar controles sociais para enquadrar a sociedade política (seus
governos), naquilo que garante a Constituição Brasileira: um país
de todos e para todos. Sem demagogia e sem falsas propagandas e marketing que
cheiram a picaretagem social.