A Garganta da Serpente
Veneno Crônico crônicas
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Fidelidade partidária, mas...

(Artur da Távola)

Abriu-se ontem à noite (escrevo antes) a temporada de debates para os presidenciáveis através da Rede Bandeirantes, há anos a pioneira na matéria. Ao que a própria rede deixou claro durante o dia, o candidato Lula foi o único que não confirmou o comparecimento.

Esses debates têm dupla face. Nem sempre o que melhor se desempenha será, necessariamente, o melhor Presidente como vimos, por exemplo, há quatro anos. Com respostas de dois minutos, ganha quem ganhar na demagogia mais bem urdida no lugar da competência. Mesmo assim é melhor do que nada.

Todos falarão em reforma política com fidelidade partidária. Na eleição anterior também se falava e na anterior. E na anterior. E na anterior.... Ah a anterior não havia: era ditadura...Mas a reforma política não saiu até hoje por causa do Congresso e não é atribuição do presidente. Os políticos não a desejam já que para estes está bom como é, pois assim se elegeram. Reforma Política, sim. Fidelidade Partidária, principalmente. Mas.....Aí aparece o Mas... do título acima. Nenhuma fidelidade partidária pode existir sem democracia interna nos partidos. O que é isso? Bati-me a vida inteira por esse “isso” e nada consegui. Trata-se do seguinte. Todos os nossos partidos são de cúpulas ou oligarquias que duram décadas. E sempre foram. Tradução: são dominados por um “cacique”, um governador, um ex-governador, um “coroné” do asfalto ou rural e sua trupe de gente que já ganhou cargos ou conseguiu eleger-se com o apoio do “chefe”. Assim, dominam o Diretório do Partido e “elegem” a Comissão Executiva. Esta, sob o comando do “cacique”, faz o que este quer. Ai está o cerne da questão da fidelidade. Sim, 60% de quem troca de partidos é gente interesseira, concordo, e isso precisa acabar. Mas trinta por cento são compostos por gente séria que esmagada e sem espaço dentro do partido , vai buscar espaço em outro.

Sem alterar estrutura interna de funcionamento dos partidos, democratizando-a, de nada valerá realizar a importante “fidelidade partidária”. Sem democracia interna nos partidos este continuarão a ser mandados por cúpulas que não se renovam nem largam o osso. E o que é a democracia interna dos partidos? São os seus Diretórios, nacionais, estaduais e municipais e, não a Comissão Executiva: o diretório é o parlamento livre dos partidos internamente.. O único partido que ouvia seus diretórios era o PT. Hoje nem mais isso. Nele, depois da queda do “leninismo” interno, impera o “centralismo democrático”. Dá no mesmo... Sem democratizar os partidos, nenhum jamais funcionará bem e justo no Brasil e, sem isso, mesmo ferrenho defensor da fidelidade partidária, esta nunca existirá. Fidelidade partidária é votar de acordo com a maioria das bancadas. E não apenas ser impedido de trocar de partido. Voltarei ao assunto.

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