A propósito desse freje com o Dia das Mães, o Walden Lins, amigo
do Reginaldo Pequeno (um magnífico escritor e jornalista cearense) enviou-lhe
a seguinte historinha:
"Dez horas da manhã, toca o telefone. Aquela sorridente senhora
atende e ouve do outro lado da linha:
" - Mamãe?"
" - Que foi, minha filha?"
" - Mamãe, aconteceu algo terrível... Minha casa está
uma bagunça, tenho que ir buscar as crianças na escola, fazer
o almoço, preciso levar o Pedrinho na natação, estou com
38 graus de febre e o Otávio acabou de me ligar que vai trazer três
amigos para o jantar.
"- Mamãe, você precisa me ajudar, por favor! "
"- Fica calma, minha filha! Eu vou já para aí. No caminho
pego as crianças na escola, faço o almoço, depois levo
o Pedrinho na natação, dou uma ajeitada na casa e, em seguida,
preparo uma lasanha para o jantar. Enquanto isso, você toma um comprimido
e vai para a cama, descansar."
"- Oh! Mamãe! Você é a melhor mãe do mundo,
sabia? Te amo, mamãe!"
"- Obrigada, minha linda! Também te amo! Daqui a pouco estarei
aí!"
"- Tá certo, e não se esquece de mandar um beijo para o
papai!"
"- Papai? Mas filha, o seu pai morreu quando você era ainda uma
garotinha!"
"- Péra um pouco! Aí não é do 7633-0856?"
"- Nããão. Aqui é do 7633-0865!"
"- Então, quer dizer que a senhora não vem...?!"
**********************************
O Reginaldo Pequeno enviou-me o texto (somos correspondentes) e acrescentou:
"Muito boa essa historinha que o Walden me mandou, cuja moral é
a seguinte: só muda o endereço!. Esta semana vi comovido um depoimento
da dulcíssima Ivete Sangalo, dizendo que durante o carnaval da Bahia,
quando ela passa sobre os trios elétricos, "mãezonas - dessas
que são mães dos próprios filhos e dos filhos das outras",
gritam para ela das janelas dos sobrados e lhe mandam sanduíches enrolados
em papel alumínio, previamente informadas sobre as suas merendas preferidas,
preocupadas com a sua cansativa e famélica jornada carnavalesca. Diz
ela que consome os quitutes com o respeito devido às hóstias da
comunhão. Nas entrelinhas ela parece dizer do amor e da saudade de sua
própria genitora e homônima, que "fez a passagem" recentemente.
É muito difícil falar de mãe sem ser piegas. Mas Drumond
consegue, conforme se vê nessa abaixo:
"Porque Deus permite que as mães vão-se embora? Mãe
não tem limite, é tempo sen'hora, luz que não apaga quando
sopra o vento e chuva desaba, veludo escondido na pele enrugada, água
pura, ar puro, puro pensamento. Morrer acontece com o que é breve e passa
sem deixar vestígio, mãe, na sua graça, é eternidade.
Por que Deus se lembra - mistério profundo - de tira-la um dia? Fosse
eu rei do Mundo, baixava uma lei: Mãe não morre nunca. Mãe
ficará sempre junto de seu filho, e ele, velho embora, será pequenino
feito grão de milho".
Que tal comprar um livro de Artur da Távola? O Jugo das Palavras |