A Garganta da Serpente
Veneno Crônico crônicas
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Mãe é mãe

(Artur da Távola)

A propósito desse freje com o Dia das Mães, o Walden Lins, amigo do Reginaldo Pequeno (um magnífico escritor e jornalista cearense) enviou-lhe a seguinte historinha:

"Dez horas da manhã, toca o telefone. Aquela sorridente senhora atende e ouve do outro lado da linha:

" - Mamãe?"

" - Que foi, minha filha?"

" - Mamãe, aconteceu algo terrível... Minha casa está uma bagunça, tenho que ir buscar as crianças na escola, fazer o almoço, preciso levar o Pedrinho na natação, estou com 38 graus de febre e o Otávio acabou de me ligar que vai trazer três amigos para o jantar.

"- Mamãe, você precisa me ajudar, por favor! "

"- Fica calma, minha filha! Eu vou já para aí. No caminho pego as crianças na escola, faço o almoço, depois levo o Pedrinho na natação, dou uma ajeitada na casa e, em seguida, preparo uma lasanha para o jantar. Enquanto isso, você toma um comprimido e vai para a cama, descansar."

"- Oh! Mamãe! Você é a melhor mãe do mundo, sabia? Te amo, mamãe!"

"- Obrigada, minha linda! Também te amo! Daqui a pouco estarei aí!"

"- Tá certo, e não se esquece de mandar um beijo para o papai!"

"- Papai? Mas filha, o seu pai morreu quando você era ainda uma garotinha!"

"- Péra um pouco! Aí não é do 7633-0856?"

"- Nããão. Aqui é do 7633-0865!"

"- Então, quer dizer que a senhora não vem...?!"

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O Reginaldo Pequeno enviou-me o texto (somos correspondentes) e acrescentou: "Muito boa essa historinha que o Walden me mandou, cuja moral é a seguinte: só muda o endereço!. Esta semana vi comovido um depoimento da dulcíssima Ivete Sangalo, dizendo que durante o carnaval da Bahia, quando ela passa sobre os trios elétricos, "mãezonas - dessas que são mães dos próprios filhos e dos filhos das outras", gritam para ela das janelas dos sobrados e lhe mandam sanduíches enrolados em papel alumínio, previamente informadas sobre as suas merendas preferidas, preocupadas com a sua cansativa e famélica jornada carnavalesca. Diz ela que consome os quitutes com o respeito devido às hóstias da comunhão. Nas entrelinhas ela parece dizer do amor e da saudade de sua própria genitora e homônima, que "fez a passagem" recentemente.

É muito difícil falar de mãe sem ser piegas. Mas Drumond consegue, conforme se vê nessa abaixo:

"Porque Deus permite que as mães vão-se embora? Mãe não tem limite, é tempo sen'hora, luz que não apaga quando sopra o vento e chuva desaba, veludo escondido na pele enrugada, água pura, ar puro, puro pensamento. Morrer acontece com o que é breve e passa sem deixar vestígio, mãe, na sua graça, é eternidade. Por que Deus se lembra - mistério profundo - de tira-la um dia? Fosse eu rei do Mundo, baixava uma lei: Mãe não morre nunca. Mãe ficará sempre junto de seu filho, e ele, velho embora, será pequenino feito grão de milho".

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