O Brasil vive um momento no qual não há Governo, não há
Oposição, e só há metade do Judiciário. Que
horror!
Dito isto, vamos ao assunto de hoje, que é outro. Comoveu o Brasil e
a Mídia, pela dimensão da dor, a morte dos cinco jovens em fatídico
acidente há dois domingos, na pista da Lagoa Rodrigo de Freitas. Havia
indício de ingestão de álcool e excessiva velocidade. Foram
centenas de artigos, reportagens de TV e conselhos por parte de radialistas.
Estamos agora numa semana em que o Detran ou Denatran, não sei, anuncia
uma campanha em favor da vida e ameaça fiscalizar locais onde é
servida bebida a jovens e, à saída destes, usar bafômetros.
Tudo isso é meritório e só pode ser bem recebido. No Brasil,
os assuntos só perduram enquanto as mídias os mantêm. Tenho,
porém, uma idéia diferente, que se agrega às úteis
providências que estão a ser tomadas, dado o índice descomunal
de mortes por acidentes automobilísticos: refiro-me às causas
ocultas pelo sistema. A seguir.
Não pensem, leitores e leitoras, pais e mães, que anúncio
de TV seja inocente como parece (e o Conar caladinho...). A maioria dos anúncios
de carros e motos leva a juventude a confundir liberdade com velocidade. E o
fazem habilmente. Insinuantes. Sedutores. O automóvel é um ícone
para ser adorado. E a velocidade é "vendida" como qualidade
da máquina. Até a Petrobrás exibe uma propaganda institucional
de seus produtos feita desta mesma maneira. Na peça para televisão,
a velocidade é tal, que o asfalto se quebra pela vibração
e se conserta, automaticamente, com a passagem da máquina veloz sobre
as rachaduras. Já viram? E o que dizer da transformação
em heróis da contemporaneidade os suicidas das Fórmulas Um, Indy
etc?...Ah a tragédia do culto à velocidade!
As motocicletas só agora começam a ter fiapos de fiscalização.
E já é tarde. Há anos escrevo que a motocicleta representa
a vitória final da indústria automobilística sobre o ser
humano. Colocar aquela velocidade e suas aparentes vantagens em veículo
de duas rodas e sem estrutura de equilíbrio e segurança nada mais
é do que um grave crime que passa despercebido. Talvez este seja o crime
perfeito em que todos procuram e ninguém acha. Não pensem também,
leitores e leitoras, pais e mães, que os anúncios de cerveja e
bebidas são inocentes em geral. Ao associarem juventude com alegria,
sexualidade, mulheres e homens bonitos, eles excitam o mecanismo projetivo da
ânsia de prazer nos jovens. E confundem prazer com felicidade... Some-se
a isso, o fato de que não há filme ou série norte-americana
em que não se resolva a trama através de implacável perseguição
em automóvel potente, com o mocinho a fazer loucuras, vendendo a idéia
de perícia, macheza e coragem. Pois em todos esses fatos, latejam, embora
ocultas, as causas principais de tanta dor e da morte prematura de nossos jovens.
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