A humanidade é mesmo cruel. Quem trata de música sabe que, durante
pouco mais de dois séculos, pela restrição à presença
de mulheres em atividades artísticas de óperas e outros espetáculos,
compravam-se meninos, em geral pobres, entre oito até os treze anos de
idade, de seus pais, para castrá-los. Com a castração,
garantia-se que as cordas vocais, por motivos hormonais, jamais ganhassem o
timbre masculino, unindo-se assim a força vocal de pulmões masculinos
a vozes muito altas e agudas, como as das mulheres. Essa prática começou
creio que na segunda metade do século 16 e, até os anos de 1800,
há notícias desses "castrati", palavra italiana que
quer dizer castrados. Ainda resiste uma gravação de 1902, das
primitivas, com a voz do último castrado de quem se tem notícia.
Em julho de 2006, li no noticiário da BBC de Londres e estou há
tempos para comentar, que os adiantamentos da ciência levaram o Centro
de Estudos Farinelli a abrir o túmulo do mais famoso, rico e temperamental
dos castrados(ele, Farinelli), para estudar, via DNA, algumas singularidades.
Recordo-me de um pensamento de Pope, que me foi mencionado pelo José
Roberto Whitaker. Ele (Pope) dizia: "Diversão é a felicidade
dos que não pensam". Grande verdade. Consta do noticiário
da BBC que, somente na Itália, chegaram a existir cerca de quatro mil
castrados ao longo do tempo.
A ciência do século vinte quer descobrir, através do DNA
de Farinelli (considerado o melhor dos "castrati"), como era a sua
constituição, qual a alimentação, seu processo hormonal
etc. Imagino que outros e mais nobres sejam os interesses da ciência,
porque estes já citados pela BBC representam apenas a expressão
viva da cultura inútil, além de trazerem à tona o caráter
macabro de atos humanos de grande covardia e vileza.
É verdade, por outro lado, que, como pregavam os cátaros há
quase mil anos, o ser humano vive a dualidade entre o bem e o mal. Esta vida
pertence simbolicamente ao mal e só a prática da espiritualidade
crescente o aproximaria do Bem Absoluto que residia em outro plano, atingido
pela sobrevivência da alma, da reencarnação e expiação
das culpas. Os cátaros ou albigenses eram cristãos verdadeiros
e puros, que foram trucidados pelas cruzadas, na França, na Itália,
na Alemanha e na Inglaterra...
Confesso temor por essa profanação do túmulo de Farinelli.
Quantas experiências científicas foram aproveitadas para o mal!
Ademais, o Brasil e o mundo andam repletos de castrados mentais. Já pensaram
se a moda pega...
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