Costumo dizer que o ciúme é uma loucura repleta de razão.
Ou uma razão repleta de loucura...
Pessoas em estado de rivalidade tendem a diminuir o antagonista. Fosse, porém,
cada ser humano aberto e inteligente o suficiente para aceitar o rival e compreendê-lo
(compreender-se através dele) em profundidade, muito descobriria acerca
de si próprio.
O poeta Walmyr Ayala, em verso belíssimo, dizia: "O lobo, no espelho,
reconhece-se na vítima". Tem razão.
Algo se completa nos antagonistas em função da disputa do mesmo
objeto amoroso. Cessada a disputa, pode vir compreensão e até amizade.
Por alguma razão oculta e profunda, quase nunca nítida, pessoas
tornadas rivais envolveram-se entre si. O que as separa é o começo
primitivo e belicoso da descoberta do que as une. Mas quem aceitará esta
verdade na prática da vida, feita de choques primários?
Houvesse coragem de prosseguir, descobrir, aceitar e seríamos melhores
e mais evoluídos. Há muito em comum entre os que se desavêm...
Esta mistura de raiva, ressentimento e ao mesmo tempo curiosidade e procura (ocultas),
entre pessoas tornadas rivais, revela a natureza intrincada e engenhosa do psiquismo
humano.
Pessoas que se odeiam enquanto em disputa de um mesmo amor seriam até capazes
de se entender e mutuamente se admirar, cessada a disputa.
O impulso - às vezes expresso de modo agressivo - de conhecer o ou a rival,
é um disfarce de ânsia mais funda de auto-conhecimento através
de alguém que se interessou pelo mesmo objeto amoroso e de certa forma
o conquistou.
A curiosidade é a forma preliminar (e, às vezes, distorcida) da
necessidade de comunhão com o outro. Fácil de entender mas difícil
de aceitar na vigência de uma relação...
Que tal comprar um livro de Artur da Távola? O Jugo das Palavras |