Com a mesma franqueza com a qual, há semanas, elogiei o momento de ternura
entre William Bonner e Fátima Bernardes, só através da
troca de olhares durante a Copa do Mundo, desejo agora lamentar a forma pela
qual estão a apresentar esquálidos dez minutos com cada candidato
a Presidente da República em veículo com a audiência do
Jornal Nacional. Quando escrevo apenas dois foram interrogados. Geraldo Alckmin
e Heloísa Helena. Quando vocês lerem já terão sido
três.
Equivocado expediente ou critério jornalístico, leva-os ao medo
de parecerem parciais. Realizam, então, verdadeira inquisição,
obrigando os candidatos, a apenas se defenderem. Isso, inconscientemente, pretende
mostrar a superioridade da televisão sobre qualquer brasileiro. Em suma:
um desserviço ao jornalismo e à democracia.
O que o povo precisa conhecer é o programa de ação e as
idéias dos candidatos e, não, como eles se defendem de acusações
e torniquetes verossímeis porem sem representar a plena verdade dos fatos.
Só quero ver se vão manter esse tom de interrogatório policial
com todos. Se o mantiverem será perdida uma ótima oportunidade
de a população tomar conhecimento das várias propostas
de governo. E se não o mantiverem por constatar que exageraram na agressividade
das acusações (pelo menos até anteontem), vão perder
a imparcialidade e vai ficar pior ainda.
Curioso: A cada noite em que os candidatos foram ao Jornal Nacional, foram depois,
às 22 horas, para nova entrevista em emissora do mesmo grupo a Globo
News com Mônica Waldvogel, André Trigueiro e Carlos Monforte. Estes
jornalistas foram firmes mas a entrevista resultou bem melhor e civilizada com
perguntas pertinentes, mais tempo para falar e sem a dura arrogância do
casal mil. Isso sem falar na barbaridade que é supor dez minutos tempo
suficiente para alguém falar sobre seus projetos para a Presidência
da República. Puro entretenimento....
Lamento escrever esta crônica pela admiração que sinto por
Bonner e Bernardes e por tantos registros já feitos desta coluna em anos
de crônicas acerca da qualidade do trabalho de ambos. Idem pelo valor
técnico e moral, inconteste, do Jornal Nacional. Mas é de meu
dever, eu diria cívico, profligar a forma pela qual iniciaram a série:
agressivos, acusatórios, superficiais, entrando na linha do jornalismo
de condenação sem julgamento, o que é uma das maiores deformações
atuais de grande parte de nossa mídia.
Não sei que tendência é esta. Creio ter vindo dos tempos
da ditadura em que era necessário ousadia para entrevistar os poderosos
- e permaneceu. Pode ser que assim seja ensinado nas escolas de comunicação,
tipo entrevistar é encurralar. E pode decorrer da dolorosa hora atual
em que na política quase só se trata com bandidos. Porém
os candidatos à Presidência da República não o são.
Interessa ao público o que pensam e, não, como se livram de perguntas
preconceituosas e sensacionalistas.
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