A frente fria afinal chegou, penetrou no meu plexo, que gelou de pavor pela
possibilidade do agravamento da guerra no Oriente Médio. A massa de ar
quente, porém, continua sobre o território humano, e a secura
do coração do genocida Bush desarticulou o equilíbrio do
mundo. Com este, o aquecimento das calotas polares iniciaram o degelo dos enormes
icebergs que ameaçam inundar os seres humanos com o diabolismo do ódio,
do racismo, do terrorismo de estado e qualquer outra forma desta prática.
Os ventos suaves de leste desistiram de acarinhar minha pele como faziam na
juventude e, agora, um sudoeste traz previsões sombrias. Há a
possibilidade de temporais de lágrimas, que já se iniciaram, alagando
o coração de mães de filhos mortos, feridos, idosos e enfermos.
A seca subseqüente deverá apagar a umidade no coração
humano, os rios do afeto e até as cataratas negar-se-ão a "cataratar",
num presságio de carência de amor.
Terremotos interiores ameaçam a esperança do homem. Marés
gigantes avançam sobre as costas frágeis do que já foram
praias de alegria, sol, colorido e prazer. O nosso lado bondoso e inocente fica
à mercê das cheias dos rios, que invadem casas, palafitas, casebres
ribeirinhos e, como sempre, a pobreza é quem paga com a morte e o aleijão.
Chuvas constantes em nossos olhos de dentro derrubam encostas de afetos, com
desabamentos e mortes das melhores lembranças e boas alegrias.
A massa de ar polar faz os donos da indústria armamentista esfregarem
as mãos asquerosas de faturar cadáveres. Tsunamis, maremotos,
mísseis, armamento nuclear aquecem (fervem?) a temperatura de nossa ventura
interna, destroem em minutos as memórias da infância e juventude.
Bois, plantações, vacas, cavalos e gente morrem de seca ou afogamento
junto com seus melhores ideais.
A temperatura de nossas vivências benfazejas e as saudades e amores despencam
mais de vinte graus Celsius. Neva e há geleiras na alma. Tornados e furacões
são esperados para mais uma temporada, com nomes humanos e ventanias
de 160 km por hora. Eles derrubam, uma a uma, as nossas melhores formas de amar,
de orar, de sonhar e ajudar a construir o bem da humanidade.
Perdida na fuga apressada pela tempestade de bombas, uma criança magra,
atrás de um muro de terreno baldio, a ponto de morrer de inanição
ou de medo, chora a sós dentro de mim, sem saber o porquê de tudo
aquilo. Os pais morreram na tempestade de explosões assassinas.
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