A Garganta da Serpente
Veneno Crônico crônicas
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Conversando com as mães

(Artur da Távola)

Dizia - em vida - o psicanalista e mestre Pedro Ferreira, que dedicou anos e anos a formar mães e professoras para a utilização das descobertas da psicanálise na educação que: "Só quem for capaz de aprender a criança saberá ensiná-la". Perfeita e aguda esta observação!

Toda a dificuldade da relação das mães com as crianças e dos adultos em geral com elas consiste em perceber no exato momento, qual a necessidade expressa pela criança. Esta necessidade é a da criança e não a que o adulto inventa ou organiza para ela. Perceber a necessidade no ato e atendê-la (se possível) em qualquer idade, é o maior desafio do educador e do comunicador. Ou se quiserem estender o conceito (e é possível): do político, do estadista, do líder (ideológico existencial ou religioso). Caso contrário surge um momento em que a criança, por causa dos adultos, se perde de si mesma. E para ser recuperada na idéia adulta, muitos estragos interiores já espocaram.

Jogar fora ou quebrar um brinquedo, só é um ato importante para quem esteja atento, observando e procurando compreender o que aquele gesto significa para aquela criança. A maior parte dos adultos supõe ser um ato ou gesto arbitrário: desorganização da mente infantil, ou expressão física de sua organização ainda embrionária. Só alguém sabedor de que "na mente nada é arbitrário", será capaz de associar fatos, gestos, reações, comunicações, até encontrar-lhes um fio condutor, uma razão emocional superficial ou profunda. Isso é amor: atenção, interesse, descoberta, comunicação, eu-com-outro. O riso da criança é a expressão de alegria por saber-se amada, vale dizer, salva.

Na criança, tudo é importante e revelador. Um riso, depois de meses de observação, de ajuda e de ternura humana deve ser compreendido e saudado como um instante glorioso. A "mãeducadora" sabe ser aquele um instante de vida: um retorno ao sentimento inaugural. O riso talvez esteja significando a entrada de luz e vida naquele destino que se truncaria e mergulharia na depressão, não fora o esforço de nele recuperar a possibilidade da alegria, do encontro com a sua melhor dimensão e do eu-com-outro. Sem ele, "a vida é nada".

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