Dizia - em vida - o psicanalista e mestre Pedro Ferreira, que dedicou anos e
anos a formar mães e professoras para a utilização das
descobertas da psicanálise na educação que: "Só
quem for capaz de aprender a criança saberá ensiná-la".
Perfeita e aguda esta observação!
Toda a dificuldade da relação das mães com as crianças
e dos adultos em geral com elas consiste em perceber no exato momento, qual
a necessidade expressa pela criança. Esta necessidade é a da criança
e não a que o adulto inventa ou organiza para ela. Perceber a necessidade
no ato e atendê-la (se possível) em qualquer idade, é o
maior desafio do educador e do comunicador. Ou se quiserem estender o conceito
(e é possível): do político, do estadista, do líder
(ideológico existencial ou religioso). Caso contrário surge um
momento em que a criança, por causa dos adultos, se perde de si mesma.
E para ser recuperada na idéia adulta, muitos estragos interiores já
espocaram.
Jogar fora ou quebrar um brinquedo, só é um ato importante para
quem esteja atento, observando e procurando compreender o que aquele gesto significa
para aquela criança. A maior parte dos adultos supõe ser um ato
ou gesto arbitrário: desorganização da mente infantil,
ou expressão física de sua organização ainda embrionária.
Só alguém sabedor de que "na mente nada é arbitrário",
será capaz de associar fatos, gestos, reações, comunicações,
até encontrar-lhes um fio condutor, uma razão emocional superficial
ou profunda. Isso é amor: atenção, interesse, descoberta,
comunicação, eu-com-outro. O riso da criança é a
expressão de alegria por saber-se amada, vale dizer, salva.
Na criança, tudo é importante e revelador. Um riso, depois de
meses de observação, de ajuda e de ternura humana deve ser compreendido
e saudado como um instante glorioso. A "mãeducadora" sabe ser
aquele um instante de vida: um retorno ao sentimento inaugural. O riso talvez
esteja significando a entrada de luz e vida naquele destino que se truncaria
e mergulharia na depressão, não fora o esforço de nele
recuperar a possibilidade da alegria, do encontro com a sua melhor dimensão
e do eu-com-outro. Sem ele, "a vida é nada".
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