Zidane é zinedine, é zizou. Zidane é Z. Z de zás-trás
e zás frente. O rosto é de águia, o bico, o olhar e o nariz,
que, ao contrário, é ziran. Seu corpo vibra em Z. Corre em Z e
relaxa a musculatura, enquanto os demais a contraem. Jogar para ele é
um fardo, um dever. Um poema? Ajusta-se, antes, à forma pela qual o passe
lhe chega. E, de imediato, se ajeita, domando a bola, servil, a seus pés.
Zizou não é zonzo. Nem sonso
Zidane é viés. É diagonal, onipresente. É causa
e não, efeito. É "zappeur", "zaouia", é
"zazou" no jazz. Não ri. Não olha: vê. Encantador
de bolas, como os há de cobras. É Zênite, é zeta,
é zeugma da pelota. Rápido e ativo como Zéfiro, chuta zarabatanas
no ponto zero. É Zen. Zidane é ziguezague inalcançável.
Reto no caráter, oblíquo em campo, onipresente.
Em seu coração pulsa a brutalidade francesa na colonização
da Argélia. Pulsam a indiferença e a frieza com que a Europa trata
etnias emigrantes. E, além-mar, a brutalidade com que tratou, principalmente,
os árabes, os armênios, os africanos e os povos orientais mais
distantes. A própria equipe italiana, diferente das demais européias,
era a única sem um jogador negro. Só brancos. Inclusive o racista
que o ofendeu.
No inconsciente do craque dos craques, lateja a dor e a resistência de
seu povo invadido, torturado, morto e oprimido no passado. Sim, Zidane traduziu
a Frente de Libertação Nacional durante todos esses anos, na coreografia
de suas jogadas imortais. É francês por acaso, apenas porque seus
pais refugiaram-se em Marselha, logo de escapar da guerra devoradora de inocentes
e pacifistas.
A cabeçada do dever cumprido foi a voz e a vez da resistência argelina.
Gestual de guerreiro. Aquela cabeçada, traduzida, quer dizer o seguinte:
cumpri meu dever com anos de trabalho incansável, plasticamente belo,
original e único. Defendi o país onde nasci, cresci e respeito.
Isto não exclui a inflexibilidade na manutenção da honra
de meus ancestrais. Sua fé e seu sangue. Dela ninguém debocha!
Zidane é de zinco, é zodiacal, com ele neguinho não zoa.
É zabro, é zambra, é zanga, azougue e zangaralhão.
Mas sabe zanzar com a bola nos pés. É zaranza e é zarcão,
é zopo e zorô. É zorra, é zorrague. É o zorro
que surge de repente e faz o gol. Zidane zurze. É zote, zoteca e zotismo.
Zidane é Zinedine, é zenocêntrico e é zorrague. Enfim,
Zidane é Zoroastro. Por isso, através dele "Assim Falou Zaratustra",
que nasceu no Azerbaijão.
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