A Garganta da Serpente
Veneno Crônico crônicas
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O Botequim da Copa

(Artur da Távola)

E lá estava a turminha de sempre, no boteco pé sujo de comida gostosa, reunida, a beliscar guloseimas em vez de almoçar, antes da hora do jogo Brasil e Japão. Eu assistia calado, a admirar a opinião de cada um e a pensar que esta era a verdadeira graça do futebol.

1) Cristina Gurjão: "há equipes sem técnica mas difíceis de serem vencidas devido à retranca e à correria. O espectador vê a equipe fraca e acha que é fácil vencê-la: não é. Fica com raiva da equipe para a qual torce, porque não está bem e mal consegue fazer um gol. Não sabe como é difícil".

2) Outro jornalista antigo, ponderou: "em cada conjunto de 11 craques, conforme o dia, a noite de sono, o estado psicológico são 3 ou 4 que se destacam. Esses 3 ou 4 mudam. Em alguns jogos são uns, em outros, outros. E o torcedor se ilude. Detesta quem jogou mal, idolatra quem jogou bem. No jogo seguinte tudo muda e ele se desconcerta. Por isso é preciso ter paciência e não trocar jogadores jogo a jogo, deixando os ajustes para as substituições no correr de cada jogo, conforme esteja o desempenho de cada jogador".

3) Paulo Ripper que entende à beça de futebol: "no futebol atual não mais são 11 titulares e sim 14 com a possibilidade de substituições. Há os titulares do segundo tempo e há os reservas para contusões ou punições. Considerar reserva apenas do 15º em diante".

4) Eis quando o psicólogo obtemperou: "no futebol, as pessoas reagem pela realização ou não de suas expectativas e não em função dos fatos".

5) Sem falar, eu pensei: "O futebol é uma endiabrada e inextricável articulação entre razão e acaso. Daí seu encanto. É enigma e o supõem ser apenas técnica".

6) O Arlindo Coutinho em voz alta disse que descobriu a definição de futebol e falou, solene. "Futebol; pessoas ávidas de perfeição, simetria e auto exaltação a se contorcerem diante da inevitável limitação humana É a dramatização da vida humana em forma simbólica".

7) No meio da gozação pelo tom de voz usado por ele, Ronaldo Presunto deu-lhe força: "É verdade a maioria dos torcedores não vê o jogo real e, sim, a relação entre este e o que queria ver acontecer". (o psicólogo já tinha dito o mesmo, antes, com outras palavras..)

8) E o garçom intelectual jogou a pá de cal: "no Brasil a imprensa nunca vê nem analisa o adversário e sim apenas a nossa seleção. É como se os adversários não existissem e a gente tenha a obrigação de ganhar".

Mas estavam quase todos tensos antes do jogo com o Japão.

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