E lá estava a turminha de sempre, no boteco pé sujo de comida
gostosa, reunida, a beliscar guloseimas em vez de almoçar, antes da hora
do jogo Brasil e Japão. Eu assistia calado, a admirar a opinião
de cada um e a pensar que esta era a verdadeira graça do futebol.
1) Cristina Gurjão: "há equipes sem técnica mas difíceis
de serem vencidas devido à retranca e à correria. O espectador
vê a equipe fraca e acha que é fácil vencê-la: não
é. Fica com raiva da equipe para a qual torce, porque não está
bem e mal consegue fazer um gol. Não sabe como é difícil".
2) Outro jornalista antigo, ponderou: "em cada conjunto de 11 craques,
conforme o dia, a noite de sono, o estado psicológico são 3 ou
4 que se destacam. Esses 3 ou 4 mudam. Em alguns jogos são uns, em outros,
outros. E o torcedor se ilude. Detesta quem jogou mal, idolatra quem jogou bem.
No jogo seguinte tudo muda e ele se desconcerta. Por isso é preciso ter
paciência e não trocar jogadores jogo a jogo, deixando os ajustes
para as substituições no correr de cada jogo, conforme esteja
o desempenho de cada jogador".
3) Paulo Ripper que entende à beça de futebol: "no futebol
atual não mais são 11 titulares e sim 14 com a possibilidade de
substituições. Há os titulares do segundo tempo e há
os reservas para contusões ou punições. Considerar reserva
apenas do 15º em diante".
4) Eis quando o psicólogo obtemperou: "no futebol, as pessoas reagem
pela realização ou não de suas expectativas e não
em função dos fatos".
5) Sem falar, eu pensei: "O futebol é uma endiabrada e inextricável
articulação entre razão e acaso. Daí seu encanto.
É enigma e o supõem ser apenas técnica".
6) O Arlindo Coutinho em voz alta disse que descobriu a definição
de futebol e falou, solene. "Futebol; pessoas ávidas de perfeição,
simetria e auto exaltação a se contorcerem diante da inevitável
limitação humana É a dramatização da vida
humana em forma simbólica".
7) No meio da gozação pelo tom de voz usado por ele, Ronaldo Presunto
deu-lhe força: "É verdade a maioria dos torcedores não
vê o jogo real e, sim, a relação entre este e o que queria
ver acontecer". (o psicólogo já tinha dito o mesmo, antes,
com outras palavras..)
8) E o garçom intelectual jogou a pá de cal: "no Brasil a
imprensa nunca vê nem analisa o adversário e sim apenas a nossa
seleção. É como se os adversários não existissem
e a gente tenha a obrigação de ganhar".
Mas estavam quase todos tensos antes do jogo com o Japão.
Que tal comprar um livro de Artur da Távola? O Jugo das Palavras |