A Garganta da Serpente
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Seis do seis do seis

(Artur da Távola)

Três vezes seis dezoito. É tempo da maioridade. O Brasil precisa saber disso.

Seis são as pontas da estrela de Davi, representada por um triângulo com o vértice para cima superposto a um triângulo com o vértice para baixo. Na antiga simbologia gnóstica e, mesmo, na religiosa, as duas pontas dos vértices do triângulo significam a dualidade da condição humana, em permanente tensão, entre viver atada ao mundo terreno e suas imperfeições e alçada às alturas possíveis da elevação espiritual. Allendy dizia, de modo magnífico, que o seis é "a oposição da criatura ao criador em um equilíbrio sempre indefinido". Outra não é a luta do ser humano nesta vida. O seis é a representação, pois, da luta do bem contra o mal.

Lembrar, também, que o mundo foi criado em seis dias. No sétimo teria Deus descansado. Já um astrônomo descobriu, com precisão absoluta, que a terra existe em seis direções: os quatro pontos cardeais, o zênite e o nadir. Mas dessas matemáticas pouco entendo, e o vértice de meu triângulo nasceu virado para baixo, com as ciências exatas. Lamento mas aceito, pois o vértice que aponta para cima estimula minha relação com a grandeza, a luz e o mistério do cosmos, do qual, numa procura de anos a fio, a cada dia me aproximo em velocidade de cometa. E ele ora aturde e esmaga, ora consola, ilumina e protege: ele, o grande útero cósmico. A esperança.

Mas tenho mais novidades para esta inconseqüente crônica, cheia de crendices, simbolismos e levezas. Qual a palavra hoje mais falada no Brasil? É hexa. Hexa Campeonato Mundial! É o ano do Seis. Temos que chegar lá. Preciso ainda recordar-lhes algumas inocentes figurações: seis é a maior das quantidades numéricas do mistério dos dados. E quem lança dois dados resultando seis em cada um, ganha tudo. O que faz sentido com o seis em algarismos romanos que é VI. VI, de Vitória. Fora tudo isso, o hexágono é uma das mais bonitas figuras da geometria, nem redonda nem quadrada ele atenua os extremos de ambos.

E para concluir, uma gracinha: há número mais bonito em seu desenho que o 6? Gorduchinho e sinuoso, ele não tem a magreza do um, as revoltas do dois, os espinhos do três, as cadeiras do quatro, a arrogância do cinco, a implacabilidade do sete (que é duro de cintura). Compara-se, é verdade, porém sem tanta volta e mais discrição, com as gordurinhas do oito, e, depois, vira até o poderoso nove de cabeça para baixo.

O seis é um craque. Por isso, para os bambaras (povos africanos milenares, e que sabiam ler o futuro das pessoas pelos pés) ele era o signo da prosperidade.

É o que desejo a todos os que lerem esta crônica repleta de cultura inútil.

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