No Brasil é assim. Entra um celular no presídio, depois outro,
ao fim de um mês há quarenta. Explode uma rebelião. Mortos,
reféns, patrimônio público queimado. A imprensa e os políticos
gritam e deblateram por dez dias. Passam-se mais vinte. Silêncio total.
Medidas severas foram tomadas. Penitenciárias sem celular.
Aí se passam mais trinta dias e entram outros dez celulares. Aos 45 dias,
já são quarenta. Dois meses depois, outra rebelião, incêndio,
reféns e, alguns dias depois, antes ainda da deposição
das armas nas penitenciárias, algumas unidades da Febem estão
a fazer o mesmo, com incêndios, vítimas e fuga de menores nunca
devidamente contabilizadas. Assim é, em tudo. Vivemos de surtos. E de
sustos.
Pois o mesmo acontece com a propaganda de remédios na televisão.
Chegou a ser proibida. Aí argumenta daqui e dali. O Conselho de Auto
Regulação da Propaganda (Conar) começa durão. Mas,
pouco a pouco, e com grande habilidade das agências, novas medicações
vão sendo infiltradas e quem prestar atenção verificará
que, fora de Copa do Mundo, Supermercado e Casas Bahia, a televisão é
uma verdadeira farmácia visual e virtual, com uma infinidade de remédios
que aparecem com uma frase cínica: "Se os sintomas persistirem
um médico deverá ser avisado". Quanta "bondade"!
Que "cautelosos" são!
Contudo o máximo do cinismo aparece nos chamados antigripais, onde ocorre
uma briga de foice por provar "cientificamente" quem tem mais ingredientes
dentro de um só comprimido. Aqui o tema se torna ainda mais grave. Além
da famosa frase citada acima, aparece em letras (e não de modo sonoro
e, portanto, os analfabetos não tomam conhecimento...), aparece, repito,
por escassos segundos, um cartão com esta preciosidade: "Em caso
de dengue este remédio não é aconselhado". Ou:
"não tomar em caso de dengue". Aqui, chego a me ajoelhar
em gratidão. Como cuidam da nossa saúde!
Ora, o dengue tem sintomas parecidos aos da gripe. Precisa de diagnóstico
médico. E, se o remédio é para gripe, a vítima,
influenciada pela propaganda dos antigripais, supondo ser gripe o seu mal, já
tomou pelo menos uma cartela dos tais remédios que não são
indicados (porque perigosos) em casos de dengue.
É igual ao celular. Entra um, depois dez, logo adiante já são
trinta anúncios por dia. E são mais remédios para enfermidades
mais sérias. Nenhum controle da Anvisa, que está sempre em greve...
Nem do Conar.
E nós... Ó.
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