Bela a idéia do Papa Bento XVI, a de visitar a Polônia em homenagem
e reverância a seu antecessor, João Paulo II (o Papa Celebridade),
que lá nasceu, viveu e se fez religioso.
Nessa visita há outros fatos merecedores de nossa reflexão. Como
alemão, logo de chegar, Bento pediu perdão pelos erros da Alemanha
e a barbaridade operada pelo nazismo na Polônia e com os poloneses, estes
dizimados e aquela arrasada. A palavra dizimados não é exagero.
O terceiro feito de valor moral elevado ele realizou ao visitar o campo de concentração
de Auschwitz para orar pelos mortos e torturados naquele local de horrenda memória.
Vejo nesses três fatos, o cerne de mensagens cristãs de alto valor:
1) A amizade por João Paulo II que é forma de gratidão
e amor; 2) O pedido de perdão em nome de compatriotas com os quais como
cristão jamais concordou. 3) O arrependimento sincero e a necessidade
de oração, ainda que um arrependimento por atos alheios, além
da condenação da barbaridade da guerra.
E a barbaridade da guerra se hoje não destrói vidas por lá,
continua à solta pelo mundo, dominada por sectarismos políticos
e religiosos, que em dimensão diabólica se estendem mundo afora
e também estão incrustadas dentro dos países, incluamos
o Brasil, O Iraque, o Afeganistão, os Palestinos, o Colombianos e agora
até o recém traumatizado Timor Leste que lutou heroicamente, há
poucos anos, por sua independência e liberdade. Lembremos-nos da África
onde milhões morrem além de ser por fome e enfermidades, também
por guerras tribais. Idem o Haiti
Quero concluir o artigo como a homenagem à Polônia. Poucos países
no mundo padeceram as mesmas dores, invasões e barbaridades que o povo
polonês. E durante séculos. A alma polonesa, porém, apesar
de tudo, manteve sua cultura, sua verdade, suas formas de fé. Povo notável.
Indo um pouco aquém no tempo, lembro o rapaz Chopin que, fraco dos pulmões
desde cedo, aos vinte anos teve que fugir da Polônia diante de uma invasão
russa iminente e que logo se deu. Aquele jovem sensível, com alma em
dor genuína, vai para Paris onde se torna famoso e até o fim de
sua curta vida, teve a Polônia, sua cultura popular e erudita, seus valores
de vida como o centro sensível, inspiração de sua música.
Na música de Chopin não existe apenas a maravilha romântica
de muitas de suas melodias famosas que alguns pianistas repetem de modo exaltado.
Nela vive o horror da guerra, a solidariedade com o seu povo, o amor por ele
(as "Polonaises"), o desespero por invasões e morticínios
em massa, pela saudade (nunca mais viu seus pais e parentes), e pela enfermidade
que o obrigava a uma vida de reclusão nada obstante o seu brilho nos
salões parisienses como pianista e compositor.
Tudo isso bateu forte na sensibilidade do cronista, ao ver o atual Papa, em
uma de suas primeiras viagens internacionais, visitar e orar na grande Polônia,
hoje felizmente um país livre e democrático.
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