A Garganta da Serpente
Veneno Crônico crônicas
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O Papa na Polônia

(Artur da Távola)

Bela a idéia do Papa Bento XVI, a de visitar a Polônia em homenagem e reverância a seu antecessor, João Paulo II (o Papa Celebridade), que lá nasceu, viveu e se fez religioso.

Nessa visita há outros fatos merecedores de nossa reflexão. Como alemão, logo de chegar, Bento pediu perdão pelos erros da Alemanha e a barbaridade operada pelo nazismo na Polônia e com os poloneses, estes dizimados e aquela arrasada. A palavra dizimados não é exagero.

O terceiro feito de valor moral elevado ele realizou ao visitar o campo de concentração de Auschwitz para orar pelos mortos e torturados naquele local de horrenda memória.

Vejo nesses três fatos, o cerne de mensagens cristãs de alto valor: 1) A amizade por João Paulo II que é forma de gratidão e amor; 2) O pedido de perdão em nome de compatriotas com os quais como cristão jamais concordou. 3) O arrependimento sincero e a necessidade de oração, ainda que um arrependimento por atos alheios, além da condenação da barbaridade da guerra.

E a barbaridade da guerra se hoje não destrói vidas por lá, continua à solta pelo mundo, dominada por sectarismos políticos e religiosos, que em dimensão diabólica se estendem mundo afora e também estão incrustadas dentro dos países, incluamos o Brasil, O Iraque, o Afeganistão, os Palestinos, o Colombianos e agora até o recém traumatizado Timor Leste que lutou heroicamente, há poucos anos, por sua independência e liberdade. Lembremos-nos da África onde milhões morrem além de ser por fome e enfermidades, também por guerras tribais. Idem o Haiti

Quero concluir o artigo como a homenagem à Polônia. Poucos países no mundo padeceram as mesmas dores, invasões e barbaridades que o povo polonês. E durante séculos. A alma polonesa, porém, apesar de tudo, manteve sua cultura, sua verdade, suas formas de fé. Povo notável.

Indo um pouco aquém no tempo, lembro o rapaz Chopin que, fraco dos pulmões desde cedo, aos vinte anos teve que fugir da Polônia diante de uma invasão russa iminente e que logo se deu. Aquele jovem sensível, com alma em dor genuína, vai para Paris onde se torna famoso e até o fim de sua curta vida, teve a Polônia, sua cultura popular e erudita, seus valores de vida como o centro sensível, inspiração de sua música. Na música de Chopin não existe apenas a maravilha romântica de muitas de suas melodias famosas que alguns pianistas repetem de modo exaltado. Nela vive o horror da guerra, a solidariedade com o seu povo, o amor por ele (as "Polonaises"), o desespero por invasões e morticínios em massa, pela saudade (nunca mais viu seus pais e parentes), e pela enfermidade que o obrigava a uma vida de reclusão nada obstante o seu brilho nos salões parisienses como pianista e compositor.

Tudo isso bateu forte na sensibilidade do cronista, ao ver o atual Papa, em uma de suas primeiras viagens internacionais, visitar e orar na grande Polônia, hoje felizmente um país livre e democrático.

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