Lucidez, algo de que o Brasil anda tão necessitado, é uma palavra
errática quem tem a ver com luz, (lúcifer também vem...),
com clarividência, precisão e justeza de idéias; com saber
defrontar-se com o real, com deslindar-se dos embaraços e da confusão
inerentes à complexidade das coisas. Um poeta, já disse: "Sou
lúcido, merda!" Outro, declamou: "Estou lúcido como
se estivesse para morrer". Um terceiro, após narrar suas angústias
abissais descobriu essa grande verdade existencial: "bom é ser bombeiro"
frase que foi válida até há uns doze dias quando mataram
um inocente e bondoso bombeiro de maneira brutal. Bombeiro para o poeta (e para
todos nós)é um homem que só faz o bem, dorme tranqüilo
e vive sem angústias, salvo as salariais.
Sim, a lucidez exagerada cansa e exaure. A plena lucidez é depressiva
tanto quanto a inocência é loucura. E precisamos dos dois. Entre
esses dois extremos agitamo-nos, ora tapados como uma mula, ora perspicazes
e até profundos como uma serpente. Mas a lucidez pode até ser
a natureza em sua ordem direta. Em passagem das "Prosas Bárbaras",
diz Eça de Queirós: "0 vento, que passa pelos campos e pelas
eiras, vem cheio de grão e de sementes: a chuva cai lúcida e fresca."
Literatura é literatura! Neste "a chuva cai lúcida e fresca",
frase mínima, a gente visualiza, sente na pele, o tipo de chuva descrito.
Sim a natureza é lúcida, como quer o zen. Nós é
que interpomos conceitos (bom, mau, feio, bonito) entre o real e a nossa percepção.
Floreios à parte, a lucidez de quem pensa e age com poder no Brasil precisa
encontrar saídas que não sejam delirantes nem mágicas.
Lula ia salvar o Brasil e vejam no que deu, o que não quer dizer que
seja tudo responsabilidade dele. Há problemas históricos renitentes
que vêm de nossa organização social; da indiferença
das elites; da explosão populacional de 1970 até hoje (nasceram
quase noventa milhões de pessoas, a população dobrou em
pouco mais de trinta anos) e, ademais, existe um diabinho transgressor que habita
dentro de cada um de nós. Mas no plano de pessoa vividas, maduras e experientes,
a lucidez, lamento dizer, em vez de ser um farol iluminador hoje é a
imobilizadora constatação do horror contemporâneo, no que
tange a todas as formas de violência diariamente sofridas pela população.
Ficar parado e passivo é que não adiante. Precisamos acordar.
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