Todos os dias, nos telejornais, há alguma figura de mãe a chorar.
Olhando o Brasil de hoje com um misto do amor de sempre e um sentimento interno
de perturbação, não penso apenas nas pessoas que morrem
por motivos fúteis, como diz o Código Penal. Ou sendo inocentes.
Ou culpadas. Ou jovens demais. Ou filhos na escola. A bala perdida. Ou estudantes.
Ou presidiários. E não penso apenas nas mães. Penso também
nos maridos dessas mães de anônimos que são os heróis
e os vilões de uma guerra civil. Esses maridos fenecem em vida, quando
vêem a mulher destroçada seja pela morte do filho ou filha, e com
isso passam a constar das listas de hipertensos, deprimidos, diabéticos
por trauma violento, doentes da coluna, dos rins, a voltar cabisbaixos da sessão
de hemodiálise, tudo por estresse e machucadura.
Penso nas mães dos rapazes que iam para a universidade, nas moças
que estavam para se graduar em informática. E o que dizer das mães
que perderam filhas grávidas? O que se passa dentro desse ser de entranhas
e grandezas que é a mãe, diante da dilaceração moral
e material que assola o Brasil? Aprendi na escola ser meu país dos poucos
do mundo que nunca fez uma guerra de conquista. E a única na qual entrou,
a Guerra do Paraguai, foi por justa razão (por mais controvérsias
haja). Agora a guerra é aqui dentro. Sendo um país maravilhosamente
mestiço, sem ódios raciais nem religiosos, jamais deixando de
incorporar os estrangeiros que para cá vieram (nossa única chaga
moral de vulto foi o que fizemos com os índios e suas nações
e com a destruição do meio ambiente); sendo um país assim
pacífico, vive a guerra interna, que vai do assassinato num sinal de
trânsito, num assalto na rua ou no pânico agora coletivo da possibilidade
de se paralisar cidades inteiras e deixar as autoridades na confusão
e na troca de acusações em que hoje estão metidos.
Penso nessas mães. Dor de mãe é diferente. Idem a memória.
Minha mãe perdeu uma filha de cinco anos por erro de diagnóstico.
60 anos depois, só ela ainda sabia de suas dores. Imagino, hoje, as mesmas
mães transtornadas por passadas e presentes guerras brutais da humanidade,
a doer igual nas mães brasileiras. A sua benção, mães
brasileiras.
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