A Garganta da Serpente
Veneno Crônico crônicas
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Cortesia com chapéu alheio

(Artur da Távola)

Juro não ser preguiça nem falta de assunto. Recordo-o por estar convencido de que todo brasileiro deveria lê-lo, principalmente na dolorosa, corrupta e violenta fase na qual vive o País. Por motivos de espaço vai em texto corrido: É de autoria do poeta inglês Rudyard Kipling em tradução de Guilherme de Almeida

SE (IF)

Se és capaz de manter a tua calma quando todo mundo ao teu redor já a perdeu e te culpa. De crer em ti, quando estão todos duvidando,
e para esses, no entanto, achares uma desculpa. Se és capaz de esperar sem te desesperares, ou, enganado, não mentir ao mentiroso,
ou, sendo odiado, sempre ao ódio te esquivares, e não parecer bom demais nem pretensioso. Se és capaz de pensar, sem que a isso só te atires. De sonhar, sem fazer dos sonhos teus senhores. Se, encontrando a Desgraça e o Triunfo, conseguires tratar da mesma forma esses dois impostores. Se és capaz de sofrer a dor de ver mudadas em armadilhas as verdades que disseste, e as coisas por que deste a vida, estraçalhadas e refazê-las com o bem pouco que te reste. Se és capaz de arriscar numa única parada tudo quanto ganhaste em toda a tua vida, e perder, e ao perder, sem nunca dizer nada, resignado, tornar ao ponto de partida. De forçar coração, nervos, músculos, tudo, a dar seja o que for que neles ainda existe. E a persistir assim quando exausto, contudo, resta a vontade em ti que ainda ordena: "Persiste"!
Se és capaz de entre a plebe não te corromperes, e entre reis, não perder a naturalidade. E de amigos, quer bons, quer maus, te defenderes, se a todos podes ser de alguma utilidade. Se és capaz de dar, segundo por segundo, ao minuto fatal todo o valor e brilho,
tua é a terra, com tudo o que existe no mundo, e - o que é muito mais - és um Homem, meu filho!
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