Após 16 anos entre Câmara Federal e Senado, hoje livre como um
pássaro, convenci-me: tão importante como identificar os ladravazes
é descobrir o que lhes facilita serem larápios da coisa pública.
É preciso compreender a raiz desses males. Há três tipos
de deformação na política: a fisiologia (apoio em troca
de nomeações); a chantagem e a corrupção decorrentes
de emendas ao orçamento; e o populismo.
Como líder de bancada e do Governo por duas vezes, na Câmara e
no Senado, tinha obrigação de varar madrugadas a articular a minha
bancada. Vivi o processo por dentro. Posso afirmar: a Comissão de Orçamento,
além de ser uma bagunça (ela é do Congresso: tem deputados
e Senadores) é a maior fonte de corrupção de dinheiro ou
de fisiologia. Explico. O modo pelo qual é feito o orçamento hoje
em dia, na união, nos estados ou municípios, torna-o uma feijoada
suculenta diante de uma legião de famintos. Sai briga, cotovelada, acordos
para a troca de emendas. Tudo para um só fim: ser aprovada a emenda do
Deputado, ou da bancada.
Sendo aprovada e publicada, acontece o seguinte: 1) ele volta para a sua região
e mostra o Diário Oficial com a emenda publicada. E faz o seu cartaz
com eleitores, prefeitos e cabos eleitorais, já que a emenda interessa
ao local onde faz política; 2) vem o exercício seguinte, ocasião
em que o orçamento entra em vigor, e aí começa a fonte
de corrupção, pressão, demagogia; 3) ele não pode
deixar a emenda ser contingenciada, isto é, cortada pelo Executivo nos
planos de controle dos gastos públicos; 4) torna-se, então, prisioneiro
do Governo (qualquer governo) que usa a liberação daquela emenda
como moeda de troca, para receber, em contrapartida, o apoio dele (parlamentar)
na votação das matérias do seu dele (Governo); 5) a partir
daí, vale tudo. Quem impera é o capiroto...
E, assim, o presidencialismo destrói a vida partidária.
Principalmente por causa desse processo de cooptação personalizada,
a vida partidária é corroída. E quase todos os partidos
possuem políticos que só vivem desse expediente: apóiam
o governo, para que este ou lhes permita indicações para cargos
públicos, ou concorde em liberar as suas emendas. Nos dois casos, brota
a corrupção envolvida pelo procedimento antiquado das nomeações
políticas.
Esta chaga induz os fracos de caráter à ousadia da pilantragem;
e os decentes, que apresentam emendas sérias, ao fracasso. Assim funciona
o Presidencialismo. Só o Parlamentarismo daria cabo desta que é
a causa da maioria dos males. Mas, logo agora, o espaço acabou...
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