A Garganta da Serpente
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A demissão de Edino Krieger

(Artur da Távola)

No meio de tantos escândalos políticos e governamentais, as coisas da cultura só raras vezes são abordadas. Desta vez, intelectuais, jornalistas e a própria Internet estão ferventes. Listas e mais listas de adesão. Sem explicar motivos (não os há) o novo Secretário de Cultura do Governo do Estado, o compositor Noca da Portela, demitiu o compositor Edino Krieger de Presidente do Museu da Imagem e do Som. Associo-me ao espanto geral.

Edino Krieger não é apenas um compositor de música brasileira chamada erudita. É uma glória internacional de nossa música. Em País no qual os compositores contemporâneos de música erudita brasileira quase não têm canais de divulgação. Edino é festejado como um nome altissonante, respeitado e soberbo. É essas pessoas que honram o Brasil.

O Noca da Portela também é um ótimo compositor de música popular da melhor qualidade na linha do chamado samba de raiz, um gênero notável e igualmente marginalizado injustamente por rádios e televisões. Fico a pensar: será uma inimaginável disputa de música popular com música erudita? Não pode ser. Ademais não existe música popular e música erudita: existe boa música ou má.

Edino ademais, é um grande caráter, já deu, além de compositor, várias demonstrações de competência, honradez e trabalho sério em outros cargos públicos que presidiu, roubando inestimável tempo de sua atividade criativa para ajudar o Brasil e sua cultura.

Pouca gente sabe, mas só a recuperação de partituras esquecidas ou em fase de estrago de antigas músicas brasileiras, trabalho maravilhoso, só isso seria suficiente para consagrá-lo como servidor público. E é uma gota de água em sua atividade. Mas neste país quem é que sabe dessas coisas de cultura: quase tudo é mercado financeiro, consumismo, Bih Brother Brasil, intriga política, corrupção, silicones, assaltos. Por isso, até a palavra "irado" virou o contrário do que significa...

Que fase dolorosa e medíocre esta que o Brasil está a viver ! Tenho a certeza de que, fosse o Edino Krieger o Secretário de Cultura e ao empossar-se encontrasse um compositor popular da qualidade e biografia do Noca, jamais o demitiria sem mais nem menos e sem sequer comunicar-lhe (como aconteceu agora) do Museu da Imagem e do Som, uma instituição indispensável à memória musical do Brasil. E isso que o Edino tem nível para ser melhor do que muito Ministro da Cultura dentre tantos que passam ou já passara por essa pasta do governo federal.

Sugestão suave mas firme de um homem vivido. Volte atrás, Noca. Não entre nesse caô. Nem sei se o Edino aceitaria. Afinal de contas, não era o cargo de Presidente do Museu da imagem e do Som que o prestigiava. Desculpe, mas era o ele que o honrava.

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