Sim para o Telê bi-campeão mundial de clubes. Sim para o Telê
preparador de duas das melhores seleções brasileira. Sim para
o Telê disciplinador com suavidade e firmeza. Sim para o Telê cujos
times não paravam de atacar fosse qual fosse o placar da partida até
então. Sim para o Telê sem arrogância. Sim para o Telê
caráter exemplar. Sim para o Telê mineiro que nunca perdeu seus
hábitos de comidas saborosas e pão durismo simpático. Sim
para o Tele correto chefe de família. Sim para o Telê que diante
de seu caixão a baixar recebe as palavras que recebeu do filho. Sim para
o Telê que passou por cima de paixões clubísticas e ao morrer
foi homenageado pelo Brasil inteiro.
Assim são os homens de caráter. Vitórias e derrotas pela
vida, sim. Não importa. Importa a dignidade. Importa a retidão
de comportamento.
Desculpem a pretensão mas há um Telê que era só meu.
Meu, não, do rapaz que fui. Quando se é jovem e a preferência
clubística é uma paixão, há uma fase que se vai
a qualquer canto para ver o time. Assim eu era, como qualquer garoto, com o
Flu, que, aliás me honrou (porém não comunicou: li no jornal)
incluindo-me entre os cem tricolores imortais, grande honra.
Pois este rapaz foi quem descobriu, para si mesmo, o jogador que era o Telê.
Não impressionava. Não era ídolo daquele grande time de
51 mas era quem melhor assimilava a orientação desse modernizador
tão criticado que foi Zezé Moreira. Telê foi o primeiro
ponteiro, hoje ala, que jogava recuado e caindo para meia de ligação
e ainda marcava. Era craque na frente e no meio de campo. Mas um craque diferente,
magérrimo, sem jogadas sensacionais mas a maquininha que dava o ritmo
ao time. Meus dois ídolos eram o zagueiro Píndaro e o ponta Telê
isso sem falar no Castilho, que sem qualquer "tricolorice" em sessenta
anos de amor e observação do futebol, foi o maior goleiro que
vi jogar até hoje.
Este foi o meu Telê que as gerações dos anos de auge de
seu sucesso não conheceram. Naquela época foi exibido um filme
norte-americano de suspense terrível que representava a luta de um comandante
para impedir a queda de um avião. Só havia um Fio de Esperança
(este era o nome do filme) em determinada manobra desaconselhável pelo
resto da equipe. Mas necessitava de coragem e decisão para tentá-lo
por ser o mais improvável. O comandante decidiu, foi por ele e salvou
o avião que já estava para se esborrachar. O filme foi um sucesso.
Por isso, e quase ninguém noticiou, Telê passou a ser chamado o
Fio de Esperança. O magrinho sempre dava um jeito de salvar o Fluminense
na frente, em geral na undécima hora, enquanto São Castilho salvava
lá atrás.
Este é o meu Telê . E é preciso ter vivido nesses anos para
saber porque era o Fio de Esperança em um País que está
a precisar de muita esperança.
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