A Garganta da Serpente
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A volta da Torre de Babel

(Artur da Távola)

O verdadeiro sentido de equívoco, não é "erro". Deriva, a palavra, de aequi-vocu, isto é, chamados (vozes) que emitem ao mesmo tempo apelos contraditórios ou opostos. Assim acontece na comunicação (e na vida) contemporânea. Os apelos e as chamadas nos chegam em forma de bombardeio simultâneo. Vivemos cercados de vozes ou chamados que se opõem, que se equivalem, isto é, ocorre simultaneidade de vozes ora contraditórias, ora antagônicas, ora perturbadoras, ora sedutoras, ora convincentes, ora "vendedoras".

É a comunicação do equívoco.

Se o fenômeno é comum ao bombardeio comunicativo diário, aumenta em casos de guerra ou de crise política. E da informação em diante, a re-utilização que dela fazem outros meios de comunicação, cria eco. O público acaba por repetir e estender a linguagem da comunicação equívoca e ela, cresce, se amplia, espalha-se, ganha ainda novas conotações, vícios, cacoetes, distorções, ecos. Dá-se uma repercussão difusa, errática e dispersiva. Além de superficial. Por isso, a hiper informação gera uma forma de não comunicação

Sobretudo o eco de uma comunicação reiterada merece ser estudado. Ele propicia a repetição de informações equívocas, reiteradas a mais não poder e de modos diferentes por rádios, jornais e televisões. Exemplo: algum assunto muito noticiado, fica ecoando com interpretações as mais diversas, comentários, opiniões, editoriais, entrevistas a respeito, falas de especialistas etc. dias e dias por jornais, revistas, rádios, emissoras de televisão e, conseqüentemente, em conversas informais por esquinas, lares e bares. Isso é eco.

O fenômeno gera alto índice de reiteração, sob formas e efeitos diferentes, acentuando o caráter equívoco da informação e provocando uma sociedade hiper informada com pedaços de verdade às vezes dispostos na notícia de modo a formar um todo coerente ou lógico na aparência, mas diverso, porém, do real e em alguns casos, injusto, calunioso ou distorcido, de modo deliberado ou casual.

Em síntese: com base em fato real, em pedaços de fato, em verdade parcial ou meia verdade, a comunicação do equívoco pode estabelecer-se numa sociedade inteira. Então, o que é um pedaço, um ângulo ou face do real supera a própria realidade E a partir daí surge um problema ético: a notícia deixa de ser processada como informação para o ser como estratégia (no caso da política e da guerra) ou como espetáculo (no noticiário comum e corrente do dia-a-dia).

A notícia como espetáculo fascina mas na realidade é a comunicação do equívoco. É a forma contemporânea do mito da Torre de Babel...Falam-se tantas línguas no mundo da informação que ninguém se entende.

É o que dá oportunidade à manipulação que é feita pelo sistemas norte americano Espantosa e sórdida a pressão feita nos Estados Unidos contra a liberdade de informação. Espantosa porém, não, original. Nunca veio á tona o complô que matou John Kennedy e cinco anos depois Martin Luther King e Bob, o melhor dos Kennedy. Como não virá, jamais, a forma solerte através da qual a indústria armamentista se movimenta por trás de tudo, a fomentar guerras para vender bilhões de dólares em armas cada vez mais mortais.

Nessa guerra louca (Bush é um genocida) feita espetáculo tecnológico de televisão, após as tentativas de cada sistema de apenas transmitir as versões que lhes interessavam, pouco a pouco jornalistas de vários países, adentram-se no território do bem e aos poucos mudam a opinião pública norte-americana e aos poucos as levam a ficar contra a guerra estúpida. Mas aí não se trata de observações de caráter subjetivo. Aí está a TV ao vivo para mostrar as cores cinzentas da realidade.

No Brasil. também: da "jogada" de desrespeitar o sigilo bancário de um caseiro, por altas autoridades e o o tiro sair pala culatra, fica a lição. Um país pode cometer a violência de censurar fatos feitos à sorrelfa. Mas esse processo, numa guerra hoje em dia coberta pela televisão e pelos jornais de vários países, tende a ser derrotado pela tarefa corajosa de jornalistas que se expõem ao perigo. Claro que a cobertura será sempre parcelada pois a câmera de televisão e dos ousados fotógrafos não pode estar em várias frentes ao mesmo tempo, mas se há bom senso dos editores, se há amplitude, objetividade e espírito público dos comentaristas, de algum modo a censura será vencida. Nessa guerra estúpida, filha da perigosa mas vigente doutrina de ocupação hegemônica dos espaços nacionais hostis ao império, a imprensa livre quando não encontra apoio no sistema, de alguma maneira fura o bloqueio, denunciando-o; e através da pluralidade da oferta, acaba por conseguir informar por cima e além dos macro-sistemas que a tudo e todos pretendem dominar.

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