A Garganta da Serpente
Veneno Crônico crônicas
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Merece não, Sebastião

(Artur da Távola)

Conheço muito bem o Senador Tião Viana. Ele é tão sério, que não deveria chamar-se Tião, nome desfrutável, e, sim, Sebastião, que é o nome de um grande santo e uma palavra parecida em todos os idiomas. No Senado, ele sentava-se ao lado de Heloisa Helena, essa guerreira cujo canhão dispara margaridas de idealismo. Hoje não sei. Ele era como a Heloísa só que em mar calmo, isto é, sereno, mas com a doce dureza dos tímidos e igualmente bom caráter, idealista, trabalhador.

Como vejo a alma, desejo levar-lhe uma palavra de conforto em seu sofrimento. Ele, ademais e apesar de ser uma pessoa doce de alma, bom e dedicado médico, deixa perceptível - isso ficou mais que patente semana passada - seu mal-estar por ir afundando-se no que interiormente não quer fazer, mas aceita por causa da fidelidade partidária.

O líder Mercadante protege-se deixando de aparecer, até porque, por certo, também não concorda, com as bandalheiras que medraram e medram na cúpula do partido deles. E é candidato ao Governo de São Paulo, com cuja base eleitoral do PT local, não quer se queimar. E a adversária dele é mordente.... Dona Martha

Fica então o Sebastião, que, aí sim, se transforma em Tião, com um desses abissais constrangimentos da política que envolvem gente correta: o de ir ao cúmulo de ser o autor da iniciativa de buscar numa justiça espantosamente governista, o impedimento do depoimento do tal caseiro. E tal e qual o Lula, com escândalos de corar o pior dos bandidos, ajuda ocultar os fatos, impedir investigações: a última coisa que o sofrido Tião pensou fazer em sua vida de honradez, bondade e idealismo.

Nessas horas, a Senadora Heloisa Helena que, muito atilada, desde cedo percebeu a farsa em que estava envolvido o PT governamental e se manteve coerente com o que sempre disse; nessas horas, dizia eu, a senadora não deve estar comemorando, pois conhece o caráter e a bondade do Sebastião. E tem bom coração. Mas deve estar aliviada por haver antecipado o que viria depois.

A política é a mais elevada e difícil dentre as atividades humanas. Fica ao lado do sacerdócio, da medicina, da carreira policial: não perdoa o erro, só opera na adversidade e gera um diário tormento ético. Mas fascina os homens, fazer o quê? Fascina e os arrebata, obrigando-os a descomunais constrangimentos.

Imagino o Sebastião ao voltar para casa, no silêncio de seu automóvel. Arrasado, triste consigo mesmo, mas corajoso, a achar que a causa do Lula merece o sacrifício que o transforma em Tião. Merece não, Sebastião! Ao Lula, a bebedeira do poder e o micróbio da demagogia desenfreada, qual o vírus do frango, já o contaminaram por inteiro.

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