Conheço muito bem o Senador Tião Viana. Ele é tão
sério, que não deveria chamar-se Tião, nome desfrutável,
e, sim, Sebastião, que é o nome de um grande santo e uma palavra
parecida em todos os idiomas. No Senado, ele sentava-se ao lado de Heloisa Helena,
essa guerreira cujo canhão dispara margaridas de idealismo. Hoje não
sei. Ele era como a Heloísa só que em mar calmo, isto é,
sereno, mas com a doce dureza dos tímidos e igualmente bom caráter,
idealista, trabalhador.
Como vejo a alma, desejo levar-lhe uma palavra de conforto em seu sofrimento.
Ele, ademais e apesar de ser uma pessoa doce de alma, bom e dedicado médico,
deixa perceptível - isso ficou mais que patente semana passada - seu
mal-estar por ir afundando-se no que interiormente não quer fazer, mas
aceita por causa da fidelidade partidária.
O líder Mercadante protege-se deixando de aparecer, até porque,
por certo, também não concorda, com as bandalheiras que medraram
e medram na cúpula do partido deles. E é candidato ao Governo
de São Paulo, com cuja base eleitoral do PT local, não quer se
queimar. E a adversária dele é mordente.... Dona Martha
Fica então o Sebastião, que, aí sim, se transforma em Tião,
com um desses abissais constrangimentos da política que envolvem gente
correta: o de ir ao cúmulo de ser o autor da iniciativa de buscar numa
justiça espantosamente governista, o impedimento do depoimento do tal
caseiro. E tal e qual o Lula, com escândalos de corar o pior dos bandidos,
ajuda ocultar os fatos, impedir investigações: a última
coisa que o sofrido Tião pensou fazer em sua vida de honradez, bondade
e idealismo.
Nessas horas, a Senadora Heloisa Helena que, muito atilada, desde cedo percebeu
a farsa em que estava envolvido o PT governamental e se manteve coerente com
o que sempre disse; nessas horas, dizia eu, a senadora não deve estar
comemorando, pois conhece o caráter e a bondade do Sebastião.
E tem bom coração. Mas deve estar aliviada por haver antecipado
o que viria depois.
A política é a mais elevada e difícil dentre as atividades
humanas. Fica ao lado do sacerdócio, da medicina, da carreira policial:
não perdoa o erro, só opera na adversidade e gera um diário
tormento ético. Mas fascina os homens, fazer o quê? Fascina e os
arrebata, obrigando-os a descomunais constrangimentos.
Imagino o Sebastião ao voltar para casa, no silêncio de seu automóvel.
Arrasado, triste consigo mesmo, mas corajoso, a achar que a causa do Lula merece
o sacrifício que o transforma em Tião. Merece não, Sebastião!
Ao Lula, a bebedeira do poder e o micróbio da demagogia desenfreada,
qual o vírus do frango, já o contaminaram por inteiro.
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