A Garganta da Serpente
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Malandragem demais atrapalha

(Artur da Távola)

Passada a alta febre tropical do Carnaval, ainda leio nos jornais referências ao critério de escolha das vitoriosas no desfile mor das Escolas de Samba, o do Rio. E com razão: aquele é um dos critérios menos justos e inteligentes jamais visto. Alguém pode afirmar, em sã consciência, que uma escola é, de fato, um décimo melhor que a outra? Ou perde porque é dois décimos pior? Ora, isso não existe num desfile de maravilhas em pelo menos 50% das comunidades participantes.

No Brasil há um traço, decorrente do nosso hábito de conviver com certa (ou muita) falta de caráter. É comportamento que precisamos superar e exorcizar, porque impregna todos os escalões da vida brasileira. Os critérios, a legislação, os regulamentos, existem, não para avaliar e servir, mas para não haver roubalheira. Acaba havendo, e maior, porque protegida pelas citadas leis, critérios e regulamentos... Foi o que nos levou à burocracia infernal do Serviço Público e leva, no caso das escolas de samba, ao absurdo atual das notas quebradas por décimos com três jurados e dezenas de quesitos. Resultado: um só jurado, querendo ou não, pode derrubar uma eventual vencedora ou, ao revés, dar a vitória por um décimo a outra.

Chega de legislar para coibir! É preciso regulamentar, até mesmo em Escola de Samba, a partir do justo e, não, do desconfiado, do feito complicado ou paralisador, para não haver roubo. E nisso o País patina há décadas. Ninguém venceu até hoje a burocracia neste País.

Nada de notas com décimos. Não é critério, é despautério, é dislate! Proponho algo diferente. Uma escola não é a fantasia que rasgou, nem o carro enguiçado. É um todo. As notas só podem ser dadas para o todo e não com o predomínio de pormenores fatais em mãos de "especialistas"desconhecidos...

A sugestão:

Chamem 15 especialistas de verdade no gênero e dêem-lhes o dever de dar notas de cinco a dez, não podendo repetir a nota mais de uma vez, por exemplo, dois dez, pode; três, já não pode. Ao final, somem-se as notas únicas e gerais, e ganhará a Escola que obtiver maior nota; se houver empate, que haja. Ainda: as cinco mais votadas serão as campeãs, claro que do primeiro lugar ao quinto, ou quarto. E, das menos votadas, duas descem. Neste ano, uma vez mais, foi assim: escolas magníficas e que plenamente poderiam ter o primeiro lugar, acabaram em quinto e até sexto. Fica, pois a sugestão deste velho cronista que, sem ser especialista, acompanha o fenômeno das Escolas de Samba, desde quando o desfile era na Avenida Rio Branco, na década de 50, e havia umas pequenas arquibancadas de madeira, tudo de graça.

O resto é aquilo que malandro já descobriu há muito tempo: malandragem demais atrapalha.

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