Passada a alta febre tropical do Carnaval, ainda leio nos jornais referências
ao critério de escolha das vitoriosas no desfile mor das Escolas de Samba,
o do Rio. E com razão: aquele é um dos critérios menos
justos e inteligentes jamais visto. Alguém pode afirmar, em sã
consciência, que uma escola é, de fato, um décimo melhor
que a outra? Ou perde porque é dois décimos pior? Ora, isso não
existe num desfile de maravilhas em pelo menos 50% das comunidades participantes.
No Brasil há um traço, decorrente do nosso hábito de conviver
com certa (ou muita) falta de caráter. É comportamento que precisamos
superar e exorcizar, porque impregna todos os escalões da vida brasileira.
Os critérios, a legislação, os regulamentos, existem, não
para avaliar e servir, mas para não haver roubalheira. Acaba havendo,
e maior, porque protegida pelas citadas leis, critérios e regulamentos...
Foi o que nos levou à burocracia infernal do Serviço Público
e leva, no caso das escolas de samba, ao absurdo atual das notas quebradas por
décimos com três jurados e dezenas de quesitos. Resultado: um só
jurado, querendo ou não, pode derrubar uma eventual vencedora ou, ao
revés, dar a vitória por um décimo a outra.
Chega de legislar para coibir! É preciso regulamentar, até mesmo
em Escola de Samba, a partir do justo e, não, do desconfiado, do feito
complicado ou paralisador, para não haver roubo. E nisso o País
patina há décadas. Ninguém venceu até hoje a burocracia
neste País.
Nada de notas com décimos. Não é critério, é
despautério, é dislate! Proponho algo diferente. Uma escola não
é a fantasia que rasgou, nem o carro enguiçado. É um todo.
As notas só podem ser dadas para o todo e não com o predomínio
de pormenores fatais em mãos de "especialistas"desconhecidos...
A sugestão:
Chamem 15 especialistas de verdade no gênero e dêem-lhes o dever
de dar notas de cinco a dez, não podendo repetir a nota mais de uma vez,
por exemplo, dois dez, pode; três, já não pode. Ao final,
somem-se as notas únicas e gerais, e ganhará a Escola que obtiver
maior nota; se houver empate, que haja. Ainda: as cinco mais votadas serão
as campeãs, claro que do primeiro lugar ao quinto, ou quarto. E, das
menos votadas, duas descem. Neste ano, uma vez mais, foi assim: escolas magníficas
e que plenamente poderiam ter o primeiro lugar, acabaram em quinto e até
sexto. Fica, pois a sugestão deste velho cronista que, sem ser especialista,
acompanha o fenômeno das Escolas de Samba, desde quando o desfile era
na Avenida Rio Branco, na década de 50, e havia umas pequenas arquibancadas
de madeira, tudo de graça.
O resto é aquilo que malandro já descobriu há muito tempo:
malandragem demais atrapalha.
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