Ao aproximar-se o Dia das Mães vem à minha mente aquela mãe
que deu à luz em plena fuga, o bebê ficou dois dias sem alimentar-se
mas resistiu bravamente, recebeu o nome de Kosovo. Gostaria que esta mensagem
chegasse não só àquela mãe mas a todas as outras
que enfrentam a dura guerra protegendo, às vezes com a própria
vida, seus filhos.
O que pensam estas mães? Qual o mundo que verá seu filho homem?
O da bomba? O da guerra biológica ou atômica? O do controle remoto?
O do clone humano? O da guerra interplanetária? Ou será o da paz?
Das pessoas redescobrindo o simples, a flor, a comunidade, a oração
sincera, Vivaldi, mãos dadas para brincar?
A mãe é sempre a favor. Sua tarefa é bíblica. Levar
e conduzir vidas sem o leme de definições, apenas com o instinto
maravilhoso que a faz Deusa da Intuição.
É tudo muito complicado. Se fizer o filho crescer amando a vida e ele
for para a guerra? E se lhe ensinar a ternura e ele tiver que aprender karatê
para evitar assaltos? E se buscar dar-lhe amor e ele sair pelo mundo esquecido
de você?
Mãe refugiada, mãe pobre, mãe empregada, mãe operária,
mãe professora, mãe de classe média, mãe rica: a
sua tarefa é o desafio de um mundo novo, para o qual terão de
preparar os homens que talvez nem precisem e se preparem sozinhos, pois cada
criança que nasce já vem ao mundo com os germens do futuro, tanto
quanto os do passado da espécie.
Tudo é alucinante mas a tarefa é a mesma. Antes era a peste,
a floresta, a cobra, a paralisia infantil, a apendicite, a sífilis, os
maridos chamados de senhor, os silêncios, os pecados, as bofetadas da
humilhação, a subserviência, a dependência. Acabou?
Não, onde havia sífilis, hoje há AIDS, onde havia as batalhas,
hoje há guerras. Mudam as ameaças, tornam-se mais terríveis,
mas cada criança é o milagre e cada uma é a portadora da
esperança.
Mesmo com tantas tristezas, transportando-me mentalmente até a Iugoslávia,
um pouco "mãe" de tantas crianças desamparadas, órfãs,
sentindo a dor de cada uma delas, gostaria de parabenizá-las pelo seu
dia. Sei que não é fácil. Quem supõe que educar
é simples; que gerar é apenas biológico; que renunciar
é fácil; que dar de si é leve; que ter filhos é
curtição... nega a essência da vida.
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