Vivia a maternidade de forma profunda, embora nem sempre houvesse sabido verbalizar
o amor que lhe ia dentro. Na véspera do casamento do filho, recolheu-se
por horas e na lavra e labuta das palavras, foi escrevendo, cortando palavras,
meditando, reformando o texto. Fê-lo pequeno, simples e sincero,para ler,
na festa do casamento (o que fez). Mas integral. O que se segue:
"O que renova o amor é a existência dele. Possui cargas internas
de acaso e surpresa que se auto fecundam. Essa renovação é
o fermento dos encontros e desencontros de que é feita toda relação
de amor verdadeiro como é o caso de vocês.
No amor, riso e lágrimas, esperanças e cansaços, luta e
vitórias fazem parte do cotidiano. É da capacidade de compreendê-los
e de os incorporar como parte fundamental da construção da vida
em comum que surge a luz de um verdadeiro matrimônio.
Reparem que a palavra cônjuge é da mesma raiz de conjugar, de onde
vem, aliás, conjugal. Por que será? Talvez porque o casamento
desafie a capacidade de conjugar o eu com o tu, o tu com o ele, o eu e o tu
com o nós e assim por diante. Conjugar o verbo amar em todas as pessoas
é viver o amor na extensão que ele deve possuir. Não apenas
o eu, nem o tu mas sobretudo o nós, o ele ou o eles (os filhos).
Vocês são capazes dessa conjugação, o sei por intuição
e senso de observação. E são capazes, porque além
de se amarem pertencem a uma geração feita de clareza e transparência
nas relações. Ela os levará à certeza de que felicidade
não é meta, algo fora de nós. Felicidade é existir,
ter saúde, poder amar, ter energia e vontade de construir. Mas é,
igualmente enfrentar os problemas da felicidade. Que são ingentes mas
são problemas da felicidade e isso é dádiva. Vocês
já estão dentro da felicidade. Sabedoria será mantê-la
com as mesmas alegrias e esperanças que agora os unem.
Que Deus os abençoe nesse caminho e eu, como mãe e aprendiz dessa
palavra tão assustadora que é "sogra", possa ser sempre
não apenas a amiga, mas alguém que acompanhe com encantamento
a construção diária do grande amor de vocês e da
bela família que saberão constituir".
Terminada a leitura, vários olhos marejados olharam-na, felizes. Jamais
se sentiu tão mãe como naquele momento. Pensou, então,
na força e no valor das palavras.
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