Perdão, criança, pelo que uma sociedade inteira faz com você!
Herdeira de tempos de ambição e loucura, você é a
vítima de todos os desvarios decorrentes do mito do progresso material.
As sociedades enlouqueceram na corrida pelo desenvolvimento econômico
e, em seu nome, mataram, corromperam, depredaram, desflorestaram, incendiaram,
assassinaram, direta ou indiretamente, pessoas, árvores, animais.
A assistência oficial para os gastos com o desenvolvimento dos países
ligados às Nações Unidas é irrisória ante
os gastos militares mundiais. O poder ofensivo instalado tem potência
suficiente para muitas destruições sucessivas do globo terrestre.
Um sofisticado artefato de guerra, apenas um, equivale à construção
de milhares de salas de aula. Perdão, criança!
No Brasil, são milhões de menores carentes e a terceira maior
população favelada do mundo, atrás apenas da Índia
e China - dados do livro Planeta Favela (Mike Davis), publicado inicialmente
pela Organização das Nações Unidas (ONU). Perdão,
criança!
Perdão pelo mundo de violência que a atinge diretamente. Perdão
pelo desamor que a vitima.
Perdão pela estupidez, pelo barulho, pelo consumismo, pela desumanização,
pela neurose e desesperança que lhe estamos legando.
Perdão por não sabermos integrar justiça social com liberdade;
progresso econômico com co-participação; prazer com trabalho;
educação com obrigação.
Perdão por ensinarmos a estudar para vencer, ao invés de estudar
para crescer.
Perdão, criança, por tudo o que amanhã - se viva for -
você terá que remover de sujeira e doença, para construir
na terra um espaço de vida, trabalho, respeito, igualdade e alegria.
Porque o saldo do século do progresso é muito mais de derrotas
que de vitórias.
Perdão, criança!
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