O limbo sempre me fascinou. O que seria? Como seria? Quando era criança
e estudava o catecismo, ficava a imaginar um lugar sem frio nem calor, sem casas,
mas flores e nuvens e uns anjos nenéns a esvoaçarem durante milênios,
imponderáveis quais gaivotas contra o vento equilibrando-se na relação
entre seu peso e a velocidade deste. Era lugar de silêncio, porém
não de tédio. Os anjinhos brincavam de fazer xixi, não
faziam cocô. E, mesmo sem saber falar, eles cantavam.
Esse era o limbo que fazia minha imaginação distrair-me das aulas
de catecismo. (está se vendo...). Nem céu, nem inferno. Uma estação
de repouso, logo abaixo do céu... Com os anos, abandonei a idéia
de limbo pregada pela Igreja, porque me parecia cruel e sem sentido. Porém
não abandonei a palavra. Lindíssima: limbo. Um som mozartiano
para algo que não existia salvo como metáfora do nada. Uma vez,
em rapaz, li no poeta Gibran, um verso dentro de poema que falava nas palavras
que jazem no limbo do nosso entendimento. Achei genial. E volta e meia uso o
termo limbo apenas de modo poético. Como será ser algo que não
é? Nunca me respondi. Nem o assunto me preocupou.
Graças à cultura religiosa que o atual Papa vem demonstrando com
o livro sobre Jesus e outros escritos, e aproveitando sua próxima visita
ao Brasil onde já está começando a ser muito querido, comento,
por isso, a decisão dele semana passada, no Vaticano, a proclamar que
limbo não existe e nunca existiu. Era uma idéia errônea
e teologicamente inconsistente, pois todas as crianças mortas ( e vivas,
é claro), são anjos de Deus. Assim sendo, como admitir que, sem
batismo, a alma da criança morta teria de ir para um limbo eterno? Que
horror! Anjo de Deus vive na Graça de Deus, ora. Só acho que deveria
existir limbo para adulto em vez de purgatório.....
Ao derrogar um erro de milênios, Bento 16 começa a dar indicações
de modernização de certas crenças feitas para amealhar
adeptos pelo medo. Sem limbo e sem pecado mortal inerente ao nascer (evidente
absurdo), somos todos anjos de Deus.
Gostei deste Papa.
Que tal comprar um livro de Artur da Távola? O Jugo das Palavras |