Ontem vi um casal de Jacu de Papo Vermelho, ave imensa e arisca, rara, a comer
nêsperas verdolengas, antes de amadurecerem. Engolem o caroço e
tudo. Lindíssimas. É ave rara por essas bandas. Ademais, ampliei
a minha plantação de trevos de quatro folhas, uma das atrações
da casa. Se a gente não retira a rúcula da terra para comer, como
toda planta ela dá flor e semente. Descobri que sua flor é virginal,
modesta e linda. Amei tudo isso.
Quando se envelhece e o gosto pela vida não diminuiu ou desfaleceu, há
uma ampliação do amor para inúmeros flagrantes simples
da vida e da natureza antes despercebidos.
E isso me despertou para esta conversa com as avós e mães porventura
na audiência. Uma das características da idade avançada
é a da ampliação do amor. Sim, o amor se amplia e consegue
o milagre de sem abandonar os principais sonhos, tipo uma humanidade melhor,
paz, decência na vida pública, ele amplia, também (e de
modo deslumbrante) as milhares de pequenas coisas e dons da natureza. Estes,
então, vêm para o primeiro plano e se misturam aos grandes ideais,
tornando a vida muito mais bela e rica, enquanto, ao mesmo tempo a aproximação
da morte rói uma parte e o gradativo envelhecimento das células
traz novos sustos.Isso, além de alguma depressão em geral intermitente.
Em compensação nos ensina lidar com novas limitações.
Um dos exemplos desse alargamento do amor reside na percepção
e compreensão dos netos. É o mesmo amor sentido pelos filhos,
mas uma relação sem ansiedade, mais compreensiva, tolerante e
repleta da admiração pelos pormenores da evolução
deles, embora tudo isso já tenha sido aprendido na vida dos filhos quando
pequenos. Não há como explicar porque o sentimento pelos netos,
sem ser maior que o sentimento pelos filhos, adoça de modo tão
diferente o mesmo coração.
Outro exemplo dessa ampliação é a descoberta do sentido
profundo do conceito de compaixão e de um amor que desborda todas as
suas fases anteriores.
Isso, porém, já é assunto para outra crônica.
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