O que estou a fazer com as minhas partes internas que ficaram paradas, pergunto-me.
O que está você a fazer com as suas? Pergunte-me o que faço
para renovar o que há de antigo em mim? E você?
Somos como um montão de anos velhos, acumulados. Vivemos a repetir o
que já sabemos e experimentamos. Também repetimos sentimentos,
opiniões, idéias, convicções. Somos a interminável
repetição, com raras aberturas reais e verdadeiras para o novo.
Somos mais memória que aventura. Mais eco do que descoberta. Somos papel
carbono, xérox existencial, copiadores automáticos de experiências
vividas. O ser humano precisa repetir, porque não está preparado
para o novo de cada momento, para o fluir do Todo na direção da
transformação permanente: é uma unidade estática
e acumuladora num Cosmos mutante e em permanente transformação.
Aceitar a mudança e a transformação é ameaçar
tudo o que o homem adquiriu e guarda com avareza, para tentar explicar a realidade
e a vida. Sim, somos viciados em nossas próprias crenças, dependentes
das próprias verdades e/ou convicções! E, como ocorre em
todas as dependências, precisamos repetir essas verdades para não
cairmos no pânico da dúvida, na mutação sentida como
ameaça. Uma pessoa diz, com orgulho, que há 40 anos torce por
um único time. Fico a pensar no que perdeu de vida, alegria e descoberta
nesse tempo todo, de oportunidade de apreciar a qualidade dos demais, as virtudes
dos antagonistas, o estudo dos adversários. Quantas outras vitórias
deixou de fazer também suas, quantas alegrias perdeu.
A rigor, nem sempre sabemos o que fazer para renovar o que há de antigo
em nós. Não me refiro ao que há de permanente, pois o ser
humano é feito de permanências e provisoriedades. As permanências
devem ficar. Mas as provisoriedades, que se tornaram antigas, precisam ser revistas,
postas em debate e arejamento.
Criar é manter a vida viva. É ganhar da morte.
Morte é tudo o que deixou de ser criado.
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