A Garganta da Serpente
Veneno Crônico crônicas
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Vertigem da própria altura

(Artur da Távola)

Empatia é muito bom para quem escreve ou faz poesia, pintura, psicologia, arte em geral, etc., pois revela as dimensões do outro. Mas para quem a sofre na carne (e nos nervos), é de lascar.

O empático sofre muito. Contado depois, até que é divertido; duas pessoas brigam, quem fica tenso é o empático que assiste. O médico coloca aquela gronga de tirar a pressão no seu braço. No que ele aperta a braçadeira do tensiômetro, antes mesmo de medir a pressão, a taquicardia já está comendo solta; a pressão foi lá em cima só de susto!

Contava-me outro dia o Paulo Alberto, que ele tem um amigo e confidente que é assim. Lá num desses dias de pânico o tal sujeito sentia vertigem até da própria altura... Esperava o frescão na fila (era o segundo) e mal se agüentava em pé, pois sabia que a morte o espreitava. Mas por fora estava firme (a maioria de quem síndrome de pânico, disfarça e não conta). Mas eu dizia que ele estava na fila do frescão quando viu ao lado de um táxi que estacionara perto, um bebum daqueles que ficam tortinhos. Aí o pau d'água se abaixou para pegar não sei o quê no chão. Quando ele se abaixou e não conseguia se levantar, o tal amigo do Paulo Alberto depois lhe contou que a vertigem da própria altura que já rodava na cuca dele passou a girar muito mais. E ele sentiu, por empatia toda a tonteira: a sua e a que era do outro. "Vou morrer", pensou e desandou a suar, além da dor de barriga imediata e sem solução, pois estava na fila do frescão e não havia banheiro por perto nem tempo... O que veio depois nem vos conto. Esse rapaz. ademais, era tímido. E para arrematar, ainda passou por ele um vizinho fofoqueiro que à noite comentou no bar, diante de vários moradores da rua: "eu vi o fulano hoje. Coitado! Bêbado e todo borrado às cinco e meia da tarde em pleno centro da cidade".

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