Com muitos anos de estrada no jornalismo, tenho uma tese, defendida, aliás,
há alguns anos em Congresso em Barcelona, para a completa indiferença
do plenário... É a de que o noticiário, no Brasil e no
mundo, salvo exceções, está dominado pelo hiper realismo.
O lema do hiper realismo pode ser sintetizado na frase que alguém certa
vez usou para defini-lo: "Mais verdadeiro que o real." Ele acrescenta
maior precisão e nitidez, mais força e expressão ao que
está sendo focalizado, enquadrado. É pedaço da realidade,
ampliada e isolada do contexto e que faz a aparência da realidade total
ampliar-se na impressão do espectador, aumentada por lentes, aproximações
e destaques. O hiper realismo aumenta a estranheza e insere um elemento estimulador
de reações, sem se afastar do real mas tornando-o maior do que
é, simulando, inclusive, ser ele a expressão da realidade total
e construindo uma linguagem na qual o recurso da ênfase e da verossimilhança
se transformem no próprio discurso. Distorce o real sem dele se afastar.
Daí a dificuldade de ser percebido em seu sorrateiro processo de "aquecer"
o real com fragmentos amplificados da própria realidade.
O hiper realismo transforma em linguagem o que é recurso, como a ênfase,
por exemplo. Recria o real através dele mesmo, sem reproduzi-lo mas se
utilizando de seus elementos para a criação de uma instância
própria, de alta expressividade e participação embora pareça
relatar o acontecido de modo imparcial (sob a capa da objetividade informativa).
É estratagema de pungente força transfiguradora, pois utiliza,
além do próprio real, a verossimilhança e a meia verdade,
unindo-as num todo coerente, verdadeiro e ao mesmo tempo ilusório. É
a mais penetrante e sutil forma de denunciar porque só é subjetiva
no momento da escolha da objetividade destacada. Ou, no dizer de Karin Thomas:
"A temática fundamental do hiper realismo é a ilusão
da realidade e a realidade da ilusão".
Para concluir, concordo que a imprensa até julgue. Está no seu
direito e dever. Já não concordo quando após julgar, promove
o linchamento. Ou quando já dá a notícia julgando e condenando.
Para no dia seguinte iniciar o linchamento moral. Mas felizmente isso não
está presente na maioria dos casos.
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