Por mãos de meu amigo Reginaldo Vasconcelos (il Maschio del Rio Pacoti),
excelente escritor cearense, chega-me uma caixa misteriosa, embrulho amassado,
desses típicos feitos por homem. Abro-a. Deslumbramento. Uma caixa repleta
de (vou dizer sílaba a sílaba, a salivar. Leiam bem devagarinho):
SA----PO---TI ! E do Ceará, Fortaleza, não sei se das encostas
dos altos e belos verdes de São Benedito, que é santo de cor,
abençoado, se de perto da Praia de Sabiguaba, das margens do Rio Cocó,
a fluir silencioso por dentro da Capital ou dos longes de Ibiapina. Sim: sem
méritos para tal, eu ganhara uma caixa de SA---PO---TI !
Desde a infância este não tão conspícuo senhor de
quase 70 anos jamais havia "sapotireado" delícia igual. Só
que, quando criança, eu não sabia que esta palavra jamais deveria
ser masculina. Sapoti é uma fruta mulher, em tudo: seu sabor de seio
cheiroso, sua maciez de mulher umedecida e prontinha para o amor. Seu formato
vulvar se cortado em quatro partes iguais, guarda em segredo - mas logo revela
- os filhotes da luzidia semente negra. É a Sapoti. Mas já hoje
não podemos dar-lhe o feminino por que outra mulher, uma das vozes mais
bonitas com a qual nosso País contou conta e cantou, já fixou
para si o apelido de A Sapoti: a nossa grande Ângela Maria.
Sapoti não se come: beija-se e seu liquefazer-se no ato de união
das carnes umedece-se da doce saliva da mulher amada e outras umidades que predispõem
à cópula. Sua cor de morenice inexplicável, sua forma de
pomo dos jardins do paraíso, a brasilidade no nome, a delicadeza e não
resistência à entrega me dá a certeza: sapoti é mulher.
Como manga é mulher. Abacaxi é homem. Caqui é mulher. Mamão
é transformista. Pêra é mulher. Banana é homem. Amora
é mulher. E o citado pecado original de Adão (pecado original
existe, sim, mas é outra coisa) não foi com maçã,
foi com sapoti. Juro.
Pomo feiticeiro de delícias sensuais, mulher transformada em fruto desde
os tempos da mitologia grega (Dafne, belíssima, sem merecer, recebeu
a vingança de um daqueles deuses que transavam com mortais, resistiu-lhe,
manteve a virgindade e o vingativo, frustrado, a transformou na árvore
do loureiro) e a coroa de louros (que hoje se bota no feijão...) enfeitava
a cabeça dos heróis.
Pois tenho a certeza que o mesmo ocorreu com outra mulher ainda mais bela que
Dafne e esta foi transformada na sapoti. Eu sei quem é, porém
não digo o nome.
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