A Garganta da Serpente
Veneno Crônico crônicas
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O território desconhecido do amor

(Artur da Távola)

Vivemos tempos de muita ciência e muito pragmatismo. Fazem parte da dinâmica interna da sociedade industrial, e a tudo e todos invadiram. A ciência, a tecnologia, o pragmatismo jogaram luz em inúmeros e notáveis campos do conhecimento, mas jamais esgotaram ou esgotarão o real.

A psicanálise, por exemplo, deu forma e conceito às situações e impulsos da libido. Idem a sexologia, mais recentemente, especializando e diferenciando (ainda mais) os conceitos psicanalíticos. Porém o amor, que é mito por ser superior ao homem e é um deus da mitologia (Eros), o amor é sempre superior e mais complexo que qualquer apropriação que dele se faça. Mesmo as "científicas".

O amor espraia-se por um território (felizmente!) desconhecido pela mais evoluída ciência. Ele se mantém dentro de uma névoa de surpresa e enigma, sempre desafiador, porque morando num mundo próprio, do qual podemos ter vislumbres, percepções ou breves iluminações, jamais conhecimento.

Esse território carregado de magia, mistério, sortilégio e perfume existencial transforma o amor em matéria sagrada. Os cientistas do século XX, em seu santo labor de lançar luz, ciência e conhecimento onde havia resistência e tabu, deixaram quase sempre de considerar o lado misterioso que escapa ao seu controle, negando-o até.

A ciência serve para iluminar a aproximação do mistério, não para ter a pretensão de elucidá-lo, o que significaria destruí-lo. Resolver é matar. Nem entender, nem desistir, eis o único caminho possível ao labor humano. Trabalhar sobre o conhecido para novas sombras e novas iluminações, num processo constante. Pobre de quem acha que sabe o amor! Ai de quem supõe esgotar o sexo com a visão científica! São tão dignos de pena como quem nada sabe ou quem vive na ignorância e no preconceito.

O mundo de hoje, entupido de pragmatismo e do cientificismo, tornou-se um mundo voraz, que pretende se apropriar de todos os conhecimentos, reduzindo-os a fórmulas e conceitos. Inutiliza, assim, o mesmo mundo que pretende salvar. E salva, em muitos casos, mas, ao mesmo tempo, complica-o, logo o afoga. Salva e afoga. Agride e afaga.

Dá para compreender esta desafiadora dualidade?

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