Vivemos tempos de muita ciência e muito pragmatismo. Fazem parte da
dinâmica interna da sociedade industrial, e a tudo e todos invadiram.
A ciência, a tecnologia, o pragmatismo jogaram luz em inúmeros
e notáveis campos do conhecimento, mas jamais esgotaram ou esgotarão
o real.
A psicanálise, por exemplo, deu forma e conceito às situações
e impulsos da libido. Idem a sexologia, mais recentemente, especializando e
diferenciando (ainda mais) os conceitos psicanalíticos. Porém
o amor, que é mito por ser superior ao homem e é um deus da mitologia
(Eros), o amor é sempre superior e mais complexo que qualquer apropriação
que dele se faça. Mesmo as "científicas".
O amor espraia-se por um território (felizmente!) desconhecido pela mais
evoluída ciência. Ele se mantém dentro de uma névoa
de surpresa e enigma, sempre desafiador, porque morando num mundo próprio,
do qual podemos ter vislumbres, percepções ou breves iluminações,
jamais conhecimento.
Esse território carregado de magia, mistério, sortilégio
e perfume existencial transforma o amor em matéria sagrada. Os cientistas
do século XX, em seu santo labor de lançar luz, ciência
e conhecimento onde havia resistência e tabu, deixaram quase sempre de
considerar o lado misterioso que escapa ao seu controle, negando-o até.
A ciência serve para iluminar a aproximação do mistério,
não para ter a pretensão de elucidá-lo, o que significaria
destruí-lo. Resolver é matar. Nem entender, nem desistir, eis
o único caminho possível ao labor humano. Trabalhar sobre o conhecido
para novas sombras e novas iluminações, num processo constante.
Pobre de quem acha que sabe o amor! Ai de quem supõe esgotar o sexo com
a visão científica! São tão dignos de pena como
quem nada sabe ou quem vive na ignorância e no preconceito.
O mundo de hoje, entupido de pragmatismo e do cientificismo, tornou-se um mundo
voraz, que pretende se apropriar de todos os conhecimentos, reduzindo-os a fórmulas
e conceitos. Inutiliza, assim, o mesmo mundo que pretende salvar. E salva, em
muitos casos, mas, ao mesmo tempo, complica-o, logo o afoga. Salva e afoga.
Agride e afaga.
Dá para compreender esta desafiadora dualidade?
Que tal comprar um livro de Artur da Távola? O Jugo das Palavras |