A verdadeira humildade é o equilíbrio. Haverá alguém
capaz de concordar comigo nessa constatação? A humildade como
habitualmente concebida, representa o pólo oposto da soberba. E o que
é pólo oposto pertence ao mesmo eixo.
Como pode o pólo oposto de um eixo deixar de contaminar-se com o sistema
ao qual pertence? Mesmo quando algo se opõe, por isso mesmo, faz parte
do sistema dentro do qual de alguma forma é oposição. A
humildade como anulação do ego sempre pretende o reconhecimento
ou o mérito. Destarte, "humildade" entendida como ausência
de vontade, humildade não é.
Ela é "nobre" por contrariar a soberba e assim se afirma, mas
tudo o que se afirma e se destaca, por ser elevado, nobre, etc. de algum modo
exalta-se, logo não é humildade plena.
Já o equilíbrio, este não visa o reconhecimento nem o aplauso
oriundo da humildade entendida no sentido acima: o de oposto da soberba pela
ablação da vontade. Nem, por outro lado, adota as táticas
vitoriosas provenientes da sensação de onipotência, superioridade,
arrogância ou soberba.
O equilíbrio não busca os louros nem os aplausos de qualquer dos
dois pólos dessa complexa relação: ele aceita as energias
necessárias à vitória e quando a obtém não
comemora nem se sente superior pelo fato e - ao mesmo tempo - o equilíbrio
sabe incorporar os elementos de modéstia inerentes à humildade.
Em síntese: não se vangloria nem se anula. Vive a necessidade
de compreender suas limitações, falhas e pequenezas em silêncio
e introspecção sem alardear.
O verdadeiro equilíbrio passa despercebido. Nem recebe os louros soberbos
da vitória nem o aplauso e reconhecimento do mérito que vem quando
há a humildade, no sentido tradicional de anulação do "ego".
O equilíbrio é silencioso, não é comemorado e (aqui
a humildade verdadeira): não é compreendido.
Seu labor de buscar os aspectos positivos da energia necessária ao êxito
e as virtudes de contenção indispensáveis à humildade,
leva-o a ser um agente integrador dos dois pólos, desagradando, até,
a ambos mas propiciando a fusão salvadora. É atitude bem mais
complexa e profunda. Quem a compreenderá?
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