A Garganta da Serpente
Veneno Crônico crônicas
  • aumentar a fonte
  • diminuir a fonte
  • versão para impressão
  • recomende esta página

Bem-vindo dezembro

(Artur da Távola)

Dezembro pede passagem. Misterioso e complexo mês. Começa por lembrar o mês dez que outubro que lembra oito. Ele é "Dez embro" (revisão favor não juntar as duas palavras). Seu som é lindo. Fale de modo suave: dezembro, dezembro, soa bonito, apesar do rigor do z logo como terceira letra, em compensação "embro". Esse R metido entre o B e o O, dá-lhe um breve choque sonoro que embeleza a melodia da palavra.

E ainda serve para trocadilhos. Meu filho Duda Monteiro, trocadilhista irrecuperável, diria que é um mês feliz por ser o de se "dezembrolhar" (revisão: não corrigir) os presentes de Natal...

Ai! Mas trocadilho bom é o infame. Esses que levam os demais a urrar de raiva. Trocadilho que não é infame não presta. Falta-lhe travessura e engenhosidade..

Mas volto a dezembro. Será que dele gosto por haver sido a data de nascimento de meu querido pai há quase cinqüenta partido deste mundo? Ele era um homem triste por haver perdido uma filha, minha irmã de cinco anos. Jamais comemorava preferia ficar no carinho da casa com minha mãe e comigo. Emociona.

É também, principalmente nos anos de colégio o princípio das férias, ó alegria. Até o verão era saboroso durante a meninice, férias, depois o Natal. Hoje faz mais a alegria do comércio que das crianças e não festeja o nascimento do Cristo, cidadão de respeito que jamais apreciaria o consumismo desesperado nem o capitalismo selvagem. E nisso surge, inevitavelmente o Natal dos meninos e meninas que nada recebem, ou ganham a merreca de algo culposo vindo da caridade alheia.

E dezembro, como janeiro, traz as transições, as alquimias da alma, o que se esvai engolido pelo tempo e o que se gesta nas ânsias de renovação na esperança no ser humano aflito. Por isso Janeiro vem de Janus um deus da mitologia simbolizado por um rosto humano a olhar para frente e para trás, a mostrar a necessidade de refletir sobre o que se fez de bom e de mau e o que pode ser recuperado e melhorado dentro de cada um de nós.

Agora as mangas não precisam mais de dezembro. Mas é inesquecível porque era o mês em que começavam a madurar, deliciosas. Hoje a tecnologia nos dá mangas praticamente o ano inteiro. E maravilhosas. Porém não a jaca, a primorosa e esquecida jaca, a dura boa comer crua e a mole um dos mais deliciosos doces dentre os que são a tentação pecaminosa do diabetes. As jaqueiras ficam grávidas por julho, agosto, vão inchando até dezembro quando estão aptas a parir a delícia de seus gomos ou bagos, chame como quiser aquele envoltório suave das sementes duras que se abrem para reprodução quando o fruto madurou sem ser arrancado do tronco

Dezembro começa com vontade de acabar e neste 2006 que traga para o fundo da terra o aluvião de corrupção e roubalheira que humilhou o País em 2005. Estimo que não passe com pizza. Passe com exemplos de que a impunidade comece a vicejar neste Brasil.

Bem-vindo Dezembro!

Copyright © 1999-2020 - A Garganta da Serpente