relação entre patrões e empregadas traz situações
complexas. A mistura de comportamentos típicos de classes sociais diferentes
gera uma barafunda só possível no Brasil.
Um amigo meu, que gosta de aplicar na vida prática de uma sociedade
capitalista seus ideais socialistas, tinha uma empregada muito amiga. Dentro
da casa ela possuía os mesmos direitos, fazia as refeições
na mesa com eles, dividia o trabalho da casa com a patroa, tinha horário
legal. Nada de dependências para empregadas, dependências para patrões.
De repente ela foi embora. Passado algum tempo da sua deserção
da casa tão igualitária desse meu amigo, a mulher dele, um dia
a encontra na feira:
- Ô, fulana, como vai?
- Vô bem. E a senhora?
Conversa vai, conversa vem. A mulher do meu amigo não podia crer que
a empregada não tivesse saudades. Era tão bem tratada, tinha os
mesmos direitos. Até que perguntou (nenhuma patroa "abandonada"
resiste a fazer esta pergunta):
- Como é, tá contente lá no novo trabalho?
- Tô sim senhora.
- Mas lá é como lá em casa, você tem os mesmos direitos,
almoça e janta na mesa com a família, só trabalha oito
horas por dia? Lá também é assim?
- Não, dona. Lá eles são gente séria!
Vejam como é a vida: a empregada estava tão acostumada à
condição de inferioridade, que considerava o igualitarismo de
meu amigo, no fundo, o maior dos esculachos, coisa de gente pouco séria.
Pelo menos ela lhe ensinou a não misturar as coisas, antes do seu tempo
certo. E a não confundir Socialismo com sentimento de culpa de intelectual
pequeno-burguês...
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