A Garganta da Serpente
Veneno Crônico crônicas
  • aumentar a fonte
  • diminuir a fonte
  • versão para impressão
  • recomende esta página

Pensando em voz alta

(Artur da Távola)

O ser que nos causa danos, num certo sentido, é alguém que sofre o mal que nos faz. Escolhe-nos mais por desespero e espera de compreensão, do que por maldade. Mas se nos encontra igualmente carentes e sem condições de percebê-lo em sua necessidade, revolta-se ainda mais, ferindo de forma aguda e intensa, por causa dessa frustração. Tal mecanismo não é percebido pelo agressor. Domina-o e ilude-o. Fornece-lhe argumentos, justificativas e razões aparentemente lógicas para abonar seus sentimentos e impulsos agressivos.

O que existe em mim que estimula a agressão do meu desafeto? - devemos perguntar-nos sempre. Talvez a resposta seja: uma parte muito parecida com a dele. Uma espécie de espelho no qual, ao olhar, ele me vê para não se ver. E para não se detestar, detesta-me.

A vida está cheia de amor destratado. Exigente, possessivo, aprisionador. Amor que não libera, que prende, cobra, reclama, pede, suga, ofende, machuca, obriga. Um amor que se utiliza do ódio como mecanismo de sua manutenção ou exigência. È assim, mas é amor, uma forma desastrada de amor. E ódio, também. É raiva.

Quem for capaz de conhecer o próprio impulso de ódio poderá talvez aplacá-los, ou diminuir o seu efeito destrutivo.

Quem for capaz de controlar o próprio impulso de ódio talvez aproveite a energia que lateja dentro (como nas forças da natureza), canalizando-a para obras e ações criadoras e positivas.

Quem for capaz de dirigir o próprio impulso de ódio, talvez despeje a força dele numa atividade artística ou empresarial, desviando-a do objeto amado passível de ser destruído.

Copyright © 1999-2020 - A Garganta da Serpente