Ontem, 15 de agosto, os católicos comemoraram a data da festa da Assunção de Maria aos céus. Conhecem a palavra dormição? Pois o dogma da Assunção, isto é subida aos céus é composto da Dormição ( a religião não fala em morte). Ressurreição e Assunção. Pensava este cronista em escrever sobre o mistérios dos Símbolos das religiões e no arquétipo do inconsciente coletivo que Jung chamou de a Grande Mãe, quando tive de interromper a escrita para acalmar um neto que dera um cortezinho no dedo e urrava. Ao voltar ao computador, a pensar nas crianças, sei lá porque, lembrei-me de mim mesmo menino e de canções que haviam dormido na memória e desandaram a ser entoadas na imaginação. Estas:
Com Minha mãe estarei/ Na Santa Glória um dia/ Junto à
virgem Maria/ No céu triunfarei.
Ou
Coração santo/ Tu reinarás/ Tu nosso encanto/ Sempre
serás.
Ou
Oh, Maria concebida / Sem pecado original/ Quero amar-Vos toda a
vida/ Com ternura filial.
Ou
Queremos Deus, homens ingratos/ Ao Pai supremo, ao Redentor/ Zombam
da fé os insensatos/Erguem-se em vão contra o senhor.
Estes cantos gravaram-se na minha memória na época do que há
de mais maravilhoso e quiçá verdadeiro: o Deus de nossa infância.
Quem é o Deus da infância? Ele talvez esteja muito mais perto de
uma concepção da divindade, da transcendência do que todas
as teologias e mitos adultos. Ele é vago, total, pacificador. Traz calma,
a resposta para tudo, pode ser a simples presença da mãe. Pode
ser a proteção do pai. Pode ser a calma da amamentação
após a angústia da morte antes de se saber que esta existe. Ele
é algo que está mais próximo de onde a gente veio antes
de nascer. Proximidade do nada (tudo) de onde saímos para viver (encarnar).
Dá-nos, pois, uma recordação mais possível desse
território misterioso. Cresce-se, envelhece-se e a memória enfraquece.
Já não se sabe ou pouco se sabe do antes. Só se pensa,
às vezes com terror, na morte e o mergulho no nada. Paz? Trevas? Sobrevivência
da alma? Reencarnação? Quem sabe?
Vivendo numa civilização que faz da morte o supremo terror, esta
domina de maneira escondida e até solerte todos os nossos atos, meros
disfarces e passatempos em vez de atos criadores do viver. O medo da morte atrapalha
a vida. Por isso, repito: eu quero o Deus da Infância!
Após colocar mertiolato no dedo de meu neto eu re-encontrei aquele Deus
simples da infância. Ele estava ali a soar em meus ouvidos. E eu, que
nem mais me lembrava dele, fui tomado de assalto por uma emoção
forte e cega confiança nos desígnios. Deus sem teologia. O Deus
que se encontra quando renunciamos á sua procura, como predizia San Juan
de La Cruz.. O Deus da confiança com a qual a criança se abriga
nos braços protetores da mãe. E como sempre a figura do Princípio
Feminino . Maria, a grande mediadora, A grande mãe da paz.
Que tal comprar um livro de Artur da Távola? O Jugo das Palavras |