Pai que sou de três filhos de sangue, duas filhas do coração
e sete netos deslumbrantes, confesso que de tudo o que fiz, faço e sou,
o ponto mais alto é a paternidade. É a minha alegria.
Ser pai é, acima de tudo, não esperar recompensas. Mas ficar feliz
caso e quando cheguem. É saber fazer o necessário por cima e por
dentro da incompreensão. É aprender a tolerância com os
demais e exercitar a dura intolerância (mas compreensão) com os
próprios erros.
Ser pai é aprender, errando, a hora de falar e de calar. É contentar-se
em ser reserva, coadjuvante, deixado para depois. Mas jamais deixar de falar
no momento preciso. É ter a coragem de ir adiante, tanto para a vida
quanto para a morte. É viver as fraquezas que depois corrigirá
no filho, fazendo-se forte em nome dele e de tudo o que terá de viver
para compreender e enfrentar.
Ser pai é aprender a ser contestado mesmo quando no auge da lucidez.
É esperar. É saber que experiência só adianta para
quem a tem, e só se tem vivendo. Portanto, é agüentar a dor
de ver os filhos passarem pelos sofrimentos necessários, buscando protegê-los
sem que percebam, para que consigam descobrir os próprios caminhos.
Ser pai é saber e calar. Fazer e guardar. Dizer e não insistir.
Falar e orientar. Dosar e controlar-se. Dirigir e ser dirigido "na moita".
É ver dor, sofrimento, vício, queda e tocaia, jamais transferindo
aos filhos o que, a alma, lhe corrói. Ser pai é ser bom sem ser
fraco. É jamais transferir aos filhos a quota de sua imperfeição,
o seu lado fraco, desvalido e órfão.
Ser pai é saber ir-se apagando à medida em que mais nítido
se faz na personalidade do filho, sempre como influência, jamais como
imposição. É saber ser herói na infância,
exemplo na juventude e amizade na idade adulta do filho. É saber brincar
e zangar-se. É formar sem modelar, ajudar sem cobrar, ensinar sem o demonstrar,
sofrer sem contagiar, amar sem receber.
Ser pai é, enfim, colher a vitória exatamente quando percebe que
o filho a quem ajudou a crescer já, dele, não necessita para viver.
É quem se oculta na obra que realizou e sorri, sereno, por tudo haver
feito para deixar de ser importante.
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