O padre Ávila, ilustre professor da PUC, grande sociólogo, santo
e querido amigo, costuma dizer: ''O que caracterizava a sociedade tradicional
era que os valores determinavam comportamentos e estes, por sua vez, determinavam
o consumo. Na sociedade industrial de hoje, deu-se uma inversão: o consumo
determina comportamentos, e estes determinam os valores.''
É verdade!
A vida de uma cidade e seus bairros, a cada dia mais, vai sendo determinada
pelo consumo. Ele invade até as concepções urbanísticas,
a tudo impregnando. O consumo impõe arquiteturas, modos de vida, formas
de lazer, concepções de artes e modos de viver.
O caso da Praça Saenz Pena é sintomático. Na reforma depois
do Metrô, a não ser o calçadão de um de seus lados,
em todo o resto ela perdeu as características de praça como centro
poética e de lazer de um bairro. Um hiato de paz na agitação
da cidade.
A Tijuca tem outra praça que é (ou já foi, mas resiste)
ótimo exemplo como local de harmonia través da natureza espaço
não ansioso na vida da cidade: a Praça Xavier de Brito. Ali, sim,
estamos numa praça e ainda dá para nos recompormos da loucura
e agitação da vida de hoje.
A Praça Saenz Pena bem que poderia voltar a ser o centro humanizado da
Tijuca. Os comerciantes do local, se pensarem em associar beleza e marketing,
poderiam se cotizar e convocar e ajudar a Prefeitura a devolver à praça
as suas características de lugar agradável para nada fazer. Sim,
praça é lugar de ''perder tempo'', isto é, ''ganhá-lo''
para a contemplação, o lazer, a meditação.
O conceito utilitário das coisas a tudo invade: na sociedade do ter e
do comprar. A cidade, as praças, a estética, os valores, a vida,
em suma, transformam-se em expressão dos seus ditames. É o império
do funcional, do prático, do funcional e vazio de beleza, humanidade,
natureza e poesia.
Até as praças sucumbem a esse pensar que nos pensa, também
chamado ideologia. Elas cedem a essa lógica do funcional e do utilitário.
De lugar de perder tempo e viver o ócio criativo, as praças transformam-se
em logradouros de passagem, vitrine de comércio, locais vazios de ofertas
para crianças, pouco vegetal, muito cimento, tudo feito para não
quebrar, para não sujar, para não chatear.
A Praça Saenz Pena me dá pena com trocadilho e tudo e faz pensar,
tristonho: ou voltamos a ter uma cidade onde os valores precedem os interesses
do consumo, ou nunca mais viveremos de maneira civilizada! Praça é
lugar de criança, árvore, grama e de lazer, e não de passagem.
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