Fico impressionado como certas pessoas são possuídas pela malignidade.
A pessoa impregnada da malignidade já nem mesmo percebe que esta não
se manifesta de modo direto. Mas é uma ação contrária
ao próximo, motivada quase sempre por mecanismos (im)perceptíveis
de inveja, de complexo de inferioridade, ou do hábito inconsciente de
entrar em disputa com os demais. Infiltra-se como um carrapato cheio de febre
maculosa, só que de modo insinuante, disfarçado, cotidiano, no
comentário ácido, na pequena intriga, no gosto de falar mal dos
outros, nos vícios de vizinhança ou no prazer da palavra crítica,
maledicente e apressada sobre o próximo. É a adoecida vontade
de prejudicar e fazer mal a outrem (faz a si mesmo...).
O ser maligno tem a ver, também, com a ambição e a fascinação
por qualquer forma de poder. Ele visa, exclusivamente, a obtenção
de vitórias materiais ou a desmoralização daqueles a quem
admira e exatamente por isso sofre por não se sentir (nem ser) semelhante
a ele ou ela, já que sua mente é doentia. Este nefasto mecanismo
é utilizado até em ações virtuosas sempre que dependam
de alguma maquinação que adiante traga vantagens ao maligno. A
inocência, a bondade e a ingenuidade, representam a anti-malignidade e
são o seu antídoto. Nada obstante, até mesmo a infância,
por exemplo, pode revelar, ao lado da inocência, traços de malignidade
precoce e visceral. Só que a infância o faz sem os disfarces. É
instinto em estado puro.
A malignidade possui alto poder corrosivo e embora também faça
mal a seu aplicador (pois dana-se quem inflige mal a outrem). Em diversas ocasiões,
o mal infligido vem cercado de atenuações e justificações,
quanta vez confundido com a verdade e mesmo com a aparência de estar sendo
feito para ajudar a uma terceira pessoa ou, até, defender a moral pública
ou privada. É mecanismo conducente a defeitos de comportamento como a
intriga, a maledicência, a hipocrisia, o falso testemunho ou o prazer
sádico de ver as situações resultarem erradas ou difíceis
para a pessoa alvo de sua doença.
O caráter emoliente da malignidade que se disfarça no gozo interior
de ver ou causar sofrimento é um de seus teores mais complexos e de difícil
precisão, infiltrado que está em certos comportamentos e disfarçado
que está até mesmo dentro de seu portador. Este, talvez esteja
convencido de estar a ajudar ou a fazer o bem: o mecanismo é sutil, incontrolável
e emerge mesmo em casos de amizade. Jamais, porém, no amor. O estado
de amor é o maior "breve" contra a malignidade. Salve o amor.
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