O Brasil é um país de povo muito pobre e inculto. Nossas elites
sempre trataram de enriquecer e entesourar, em vez de procurar construir uma
Nação com mais sentido de justiça e igualdade de direitos.
Os poderes públicos jamais foram fortes o suficiente para garantir educação,
saúde, habitação, transporte e alimentação
básica a todo o povo. Nossa economia sempre foi dependente e sugada em
suas principais riquezas. Além de não-distributiva.
Conseguimos evoluir tecnológica e empresarialmente, mas os frutos desse
desenvolvimento jamais tiveram um sentido social a nortear-lhes o rumo. Não
temos tradição democrática. Aqui, tanto matam os bandidos,
como os policiais. Possuímos quase nula a consciência dos direitos
individuais. Em nosso País, só pobre vai preso, e não há
instituições destinadas a operar uma tentativa de equilíbrio
social. Nossa "elite" econômica sempre preferiu os surtos democratizantes,
até pela violência. E, hoje, só sabe falar de lucro a qualquer
preço.
Somos um País que não tem cultura política para eleger
seus representantes. Aqui, qualquer pessoa, até antes da Constituinte
de 88, podia ser presa por causa de suas idéias: bastava um pequeno endurecimento
do regime. Falamos em liberdade e criamos um Estado fortíssimo. Apesar
de tudo isso ser feito em nome do progresso do País, apresentamos índices
gravíssimos de miséria, atraso e doença, que convivem com
níveis altos de desenvolvimento material em alguns segmentos da economia.
Esse quadro gera a realidade de um povo pobre, ingênuo, sempre passado
para trás. Mesmo a nossa aviação, considerada uma das mais
seguras do mundo até 2006, em menos de um ano transtornou-se e hoje é
a talvez mais desorganizada e perigosa da terra (ou do ar...)
A partir deste ponto, o que se segue tem a ver com o PAN, diariamente, em nossos
lares. Atenção! Quando um representante desse povo, na cor mestiça
da pele, no nível cultural e no físico, rompe as limitações
seculares e faz de sua fraqueza a grande força através do esporte
ou da música, é evidente que o portador desses signos - por encarnar
um milagre -, tem de ser um representante poderoso e afetivo das principais
dores e esperanças de seu povo. Isso tanto está a se dar agora
no Pan, como se dá com gente que vai do Hip Hop, como MV Bill, ao samba
como Nelson Sargento, que ontem fez 83 anos... Assim foi Garrincha, assim foi
o sonho incompleto do Maguila. E de tantos vitoriosos, a começar por
Pelé. Através desse sonho, a Nação, por seu lado
pobre, humilde, sem chances de progresso, antevê a possibilidade de êxito,
de vitória, de quem não nasceu em berço de ouro e é
mestiço como a maioria do povo. As elites brancas e européias
falharam. Idem, políticos salvadores da Pátria, tão freqüentes
no regime presidencialista. Algo me diz, com toda a clareza, que nosso futuro,
se tem esperanças, está ligado à nossa mestiçagem
em marcha.
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