Em toda essa história do colapso de nosso sistema aéreo, sobre
o qual todo mundo palpita e quem paga é a população, fica
evidente que não será um cronista de canto de página o
bamba que vai dar a solução. Na idade da sabedoria, a gente se
guia por sintomas gerais. Por instinto. Por sinais aparentemente sem importância.
Vivemos no mundo do pormenor e da tecnologia, mas os idosos são como
aqueles velhos médicos de família, que descobriam as enfermidades
no ouvido e sem tantos exames.
Este viajor de muitas milhas andou demais de avião em sua vida. Já
me sentia um comandante, tantas foram as viagens por este Brasil e o Exterior,
principalmente nos 16 anos de vida parlamentar, Presidente Nacional de Partido,
convidado para palestras e eventos internacionais. Jamais passei momentos dramáticos,
exceto duas arremetidas, uma delas apavorante, com centímetros para os
pneus tocarem no chão: aliás, aqui no Aeroporto Santos Dumont,
em noite de temporal. Mas chega de xaveco, e vamos ao assunto.
Já repararam que, apesar de combalida, quase falida e perseguida por
todos os lados, sobrevivendo milagrosamente, em momento algum se falou ou fala
em falhas nos aparelhos da Varig? Por que será que as duas companhias
mais recentes, que enriqueceram em pouco tempo, volta e meia apresentam problemas?
É só observar. Já houve vôo da TAM em que até
a porta do meio da aeronave se abriu e creio que um ou dois passageiros foram
ejetados do avião até se espatifarem no chão, um deles
atado à poltrona. Até hoje não se apuraram as responsabilidades.
E a Vasp? Passou anos falindo. Definhando, definhando, perdendo aparelhos em
decisões judiciais para pagar dívidas. Morreu. Pois nem nas horas
de maior agonia dessa empresa, houve qualquer incidente grave de segurança
com seus aparelhos.
O mesmo se pode dizer da Transbrasil. Já anêmica, a manutenção
jamais deixou em perigo a vida dos viajantes.
Daí minha dúvida: na tentativa de consertar os erros seguidos,
esses dados gerais e sintomáticos não devem ser postos de lado
ou ignorados. E agora que a aviação é um oligopólio
da GOL e da TAM, a segurança de vôo entrou em crise. Claro que
há outros fatores inegáveis. Mas que essa coincidência deve
ser considerada, disso não duvidem meus inteligentes leitores e leitoras.
Tem caroço debaixo desse angu.
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