Chega de horror! Vamos falar de desporto, ainda que com os olhos úmidos.
O esporte emerge e fulge em épocas de paz, por ser uma forma de canalizar
a agressão, produtivamente, através do mito. Quanto mais paz,
mais esporte.
A ânsia de paz deixou de ser mera expressão de filosofias humanistas,
para transformar-se em objeto do instinto conservador do homem. Se antes se
condenava a guerra por sua estupidez e falta de sentido, hoje o homem sabe que
deve condená-la também como imperativo de sua sobrevivência
como espécie.
Frente a este quadro, o esporte, vivenciado em comum pelas multidões
do mundo, deixa o seu caráter lúdico para ser uma corrente cultural
ascendente e poderosa. No fluxo desta corrente, avulta a convicção
de que a única saída para a humanidade está no entendimento
e na união, no trabalho e na solidariedade entre os povos - daí
sua força simbólica - e na canalização positiva
dos impulsos agressivos. E para dar vazão à agressividade tornada
civilizada, o ser humano descobriu, pratica e cultua o esporte.
Não estavam longe da sabedoria os gregos, quando faziam política
através do esporte, ou esgotavam os impulsos agressivos dos povos nas
práticas lúdicas. Sabiam que quem sacia seus ânimos em disputa
lúdico-energética não precisa fazê-lo através
da guerra ou da destruição. Daí a beleza catártica
e educativa do desporto.
A agressividade é um dado da psicologia do animal-homem. Suas estruturas
arcaicas de comportamento perduram sob formas as mais variadas, ainda que lapidadas
pela cultura. A agressividade é, todavia, um dos componentes psíquicos
também positivos, se direcionada a atividades criativas. Reprimi-la,
negá-la, como se não existisse, é erro, pois acaba saindo
sob formas patológicas, assassinas. O caminho é dirigir os impulsos
para situações que sirvam para descarregá-la de maneira
construtiva e útil. Outro exemplo? A arte! Quando a criança e
o adulto transportam para pinturas, formas ou cores os símbolos do problema
que os oprimem, estão descarregando a agressividade que se voltaria contra
si ou contra outros. Com o esporte se dá o mesmo, talvez até de
forma ainda mais intensa. É ele expressão simbólica da
agressividade animal elaborada por mecanismos associativos, intelectuais e artísticos
e voltada para atividades fraternas. É o exame de tudo isso, chegando
a nós através do modo simbólico do jogo, o que encanta
e deslumbra a humanidade.
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