Ainda sob a alegria da vitória de 3 X O sobre a Argentina e vibrando
com a seleção que calou a boca dos corvos de plantão, aproveito
a festa para meditar sobre outro aspecto pelo qual o esporte deve ser abordado.
Ele me parece muito sério e de alto teor educativo.
Há um hábito que persegue o Brasil. Decorre de nosso ancestral
complexo de inferioridade. E aparece em vários episódios coletivos.
Agora está presente no Pan, e, para alertar, escrevo esta modesta e respeitosa
crônica, enquanto há tempo de corrigir distorções.
Em todo nosso jornalismo, em rádio, jornal, TV e Internet, já
se pode observar neste PAN uma hegemônica "brasileirada", "brasileirice"
ou "brasileirite". Consiste em deixar de lado a beleza do atletismo
e somente aludir aos atletas brasileiros, só transmitir cenas deles e
viver de um único tema: o desempenho e ass medalhas dos patrícios.
São 42 países mas, para a nossa mídia, só existe
o Brasil. Não é o Pan no Brasil: é o Brasil no Pan...
Vamos por partes.
1) Como técnica jornalística da informação objetiva,
é falha grave, pois ocorre mais como torcida de quem informa do que como
noticiário imparcial.
2) Por trás da "brasileirite", esconde-se a luta por audiência,
leitura, ou escuta radiofônica, que consiste em tomar carona no sentimento
nacional e agradar ao torcedor médio, em vez de mostrar ou aludir aos
demais atletas e à beleza de seus desempenhos.
3) É o predomínio da notícia como espetáculo ou
entretenimento sobre o valor intrínseco e profundo do esporte em seu
caráter educativo.
4) É base para propaganda até de cerveja, infiltrada de modo solerte
e perigoso no meio dos anunciantes que, por patrocinar, ganham a simpatia do
público jovem.
5) Ainda dentro da estratégia de dominação ideológica
pelos padrões do sistema produtor, ao dar mais valor às medalhas
apenas do Brasil derroga-se o ideal olímpico, e impõe-se a regra
de um nacionalismo caduco em plena era da globalização. Também
se retira do espectador ou leitor o direito de ver a competição
em plenitude e não apenas o desempenho do Brasil.
6) Convoco diretores de esporte, editores de jornal, rádio e televisão,
gente sabidamente especializada e competente, a refletir sobre estas modestas
considerações de um velho observador da vida e do esporte e a
nos mostrarem não somente o Brasil no Pan, mas principalmente o Pan no
Brasil.
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